Cthulhu

A viagem é longa e cansativa, mas assim que avisto a imensa mancha de tolina na forma de uma baleia, sinto-me invadido por uma estranha tranquilidade. É como se regressasse ao momento antes de acordar de todos os sonhos, numa súmula espessa e morna, quase opaca. Talvez ainda esteja dentro do sonho, no limite vazio da fronteira, onde a nuvem de Oort se anuncia.
Noto que são poucos os que voltam. Ao meio dia o sol é um ponto no firmamento e a sua luz não é mais forte que a de uma madrugada de inverno. Não há ninguém à minha espera quando saio da estação, nenhuma alminha a segurar o meu nome com erros numa cartolina. A praça de táxis está às moscas. Antes havia aqui um quiosque que vendia jornais para uma semana, mas com a crise fechou.
Apesar da desolação de edifícios vazios, ruas desertas, a vista continua a ser de cortar a respiração. Num céu quase sem cor, Caronte e as outras luas dançam muito próximas, suspensas no espaço. Enquanto que mais a sul, o horizonte é preenchido por uma cordilheira de vales estreitos e picos montanhosos brilhantes, cobertos por neve de metano. 
Dar-te lume aqui era uma tolice.



Comentários

  1. Versão lindíssima a aquecer um sol de meio dia de inverno.

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  2. Caro Manelamigo

    Não há mau tempo que te impeça de escrever bem. Este é um texto que bem podia fazer parte dum "Manual de Bem Escrever" para dar aos que se intitulam escrevinhadores ou poetaços de pé mais do-que-quebrado para ver se começavam a escrever escorreito. Mas esta é uma aspiração que nunca será posta em prática porque o sistema (???) não quer que seja.

    Portanto só te peço que continues na senda do que sabes fazer e bem: escrever - e bem. Obrigado pr aquilo que me (nos?) dás...

    ======================AVISO====================


    PINTAROLAS E FUNERAL
    Já tinha começado a fazer o anúncio do artigo DENTES PARA O BOLO DE CREME (que faz parte da saga da Alzira) que, porém, não chegou a todos os bogues; por isso o repito agora e aqui.
    Entretanto, uma antecipação: o próximo texto da mesma saga Alzira mete FUNERAL. E por agora nada mais.
    Qjs & abçs – Henrique, o Leãozão


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    1. Caríssimo Henrique, fico sem jeito diante de tais palavras, principalmente vindas de si. Eu é que agradeço a paciência e persistência dos que continuam a ler, e enquanto me for permitido, continuarei a escrever.
      abraço, sem queijo

      ps Pintarolas e Funeral, só o título já promete :)

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  3. Melhor mesmo será deixar de fumar... :)

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  4. enquanto escribas, as vossas (tuas e da Cuca Laruca) formas de construção com palavras são, por vezes, tão tremendamente idênticas :)

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  5. Manel, bom apanhar aqui esta versão enquanto aqueço os motores para ir ver o Palma nos vinte e cinco do "Só".
    As viagens sem ninguém à espera são tão diferentes... eu sei.

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    1. nem sou grande fã do Palma :) nem ele será grande fã de mim :)

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  6. podia ser o mote para uma banda desenhada do Moebius :)

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    1. penso que é a ele que ando a roubar as ideias :)
      o Incal é qualquer coisa de genial

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  7. (ai Hurican, muda lá de personagens...até vou ter pesadelos...)

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  8. Respostas
    1. gostava de saber onde para aquela cena do fogo que arde sem se ver, ferida que dói, e não se sente; um contentamento descontente, a tal dor que desatina sem doer...

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  9. Já estou a ouvir a música em modo repeat... Adorei :)

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  10. E, andas agastado comigo porquê?se estás feliz e tudo...

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    1. Deixaste-me um comentário,que eras mais feliz antes de me ler e blá blá blá....

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    2. nunca estou muito feliz... faz-me comichão :)

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