Macbaca

... ou três bruxas na zundapp, em duas cenas e um único acto!


ACTO I 
Cena I 

Lugar deserto, ali na Trafaria. Trovões e relâmpagos. Entram três bruxas (vindas do salão de chã, depilaram tudo menos o buço). 

PRIMEIRA BRUXA — Quando estaremos à mão com leite, bife e carteira? 

SEGUNDA BRUXA — Depois de calma a baralha e vencida esta batalha. 

TERCEIRA BRUXA — Hoje mesmo, então, sem falha (desrespeitar a ética universalmente aceite de não atacar aos fins de semana)

PRIMEIRA BRUXA — Onde? 

SEGUNDA BRUXA — Da charneca ao pé (no Alentejo abissal). 

TERCEIRA BRUXA — Para encontrarmos Macbaca, acho que a vi numa rede social...

PRIMEIRA BRUXA — Cellerini, não faltarei. 

SEGUNDA BRUXA — Holstein-Frísia, sua patega. 

TERCEIRA BRUXA — Depressa, ou perdemos os saldos! 

TODAS — São iguais o belo e o labrego; andemos da névoa, quem é que vai no meio? (Saem montadas na zundapp, descabeladas, um assombro). 



 Cena II 

Um corsário algures nos trópicos. Alarma dentro. Entram Capitã Cuca, Andhriminir, Reboredo, Polly e pessoas do séquito. Encontram um polvo ferido. Andhriminir afia a faca.

CAPITÃ — Quem é esse indivíduo ensanguentado? Pelo que mostra, pode dizer algo sobre o estado recente da revolta. 

REBOREDO — É o polvo que, como bom e intrépido soldado, se infiltrou no campo inimigo. Salve, valente amigo! À Capitã relata quanto sabes da luta até ao momento em que saíste dela.

POLVO — Duvidoso era o desfecho, como dois cansados nadadores que um no outro se embaraçam, a arte prejudicando mutuamente. As impiedosas bruxas, dignas em tudo de serem mesmo umas rebeldes — que as inúmeras vilanias do mundo em torno delas como enxames esvoaçam — suprimentos das ilhas do oeste receberam, entre elas a nossa sagrada Macbaca. Mas tudo isso foi tornado público, porque as redes sociais são assim mesmo. E assim desdenhando a fortuna, de aço em punho, a fumegar da execução sangrenta, tal como o favorito da bravura, aqui este vosso soldado soube um caminho abrir até postar-se bem na frente da zundapp, e como as bruxas que eram três não sabiam onde era o freio, descoseram-me de alto a baixo. Com a estrada cheia de pernas, nem as bruxas se aguentaram na motoreta, duas partiram a cabeça, a mais feia deslocou a anca. 

CAPITÃ — Oh bravo primo! Que digno gentil-polvo! 

POLVO — Como nascem tempestades terríveis e arrebentam pavorosos trovões do mesmo lado em que o sol principia a levantar-se: da mesma fonte, assim, de onde o socorro parecia manar, surgiu o alarma. Presta atenção agora, Capitã dos sete mares: mal havia a justiça, redobrada pelo valor, quando as bruxas se endireitaram por magia, tendo percebido a vantagem, com cera quente e pinças afiadas recomeçaram o assalto. 

CAPITÃ — E porventura que sucedeu à Macbaca? 

POLVO — A Macbaca está irreconhecível, magra, parece um dálmata. Para dizer o que houve, terei de relatar que a mandaram pastar bites no farmville. Assim elas mantinham a fachada de salão de chá, banhavam-se em rios de dinheiro, do que cobraram no face, a quem pagava para conseguir subir de nível, não sei dizê-lo. Mas temo desmaiar; minhas feridas reclamam por socorro. 

CAPIT× Teu relato te orna tão bem como esses ferimentos; lídimo sabor de honra eles revelam. Ide buscar um cirurgião para ele. (Sai o polvo, acompanhado.) (Entra Gualtiero, o representante dos amantes abandonados) Quem vem aí? 

 REBOREDO — O muito digno Gualtiero. Nos olhos dele, quanta pressa! O olhar assim teria quem nos viesse dar notícias de factos muito estranhos. (Reboredo procura os óculos, afinal estava a ver mal, parecem boas notícias, mas do representante dos amantes abandonados nunca se sabe!)

GUALTIERO — Que Neptuno proteja a Capitã Cuca. 

CAPIT× Mui digno pirato, de onde chegas? 

 GUALTIERO — Grande Capitã, venho da Trafaria, onde capturamos com dignidade a Macbaca. As três bruxas foram derrotadas, essas pérfidas, que deram início a um conflito pavoroso. Mas a vaca é nossa, foi um defrontar-se em combate singular, espada contra espada, braço contra braço rebelde, e fez que seus espíritos altivos se curvassem. Em conclusão: a vitória pendeu do nosso lado. 

 CAPITÃ — Grande felicidade! (bate palminhas!)

 GUALTIERO — De tal medo que Smilenka, a primeira bruxa, paz nos implora. Mas não a deixamos reabrir lá o salão de chá, sem que antes dez mil euros houvesse pago para nossa caixa. 

CAPITÃ — Jamais de novo há de trair o nosso afecto. Sem delongas manda Andhriminir cortar Macbaca às postas, hoje temos bife. 

GUALTIERO — A mim tomo esse encargo. 

ANDHRIMINIR— Aaaarrrrrr! (Saem).

as três bruxas na zundapp
plagiado de MACBETH de WILLIAM SHAKESPEARE

Comentários

  1. Palminhas! Palminhas! Palminhas!
    Cumpriu-se a tradição! Nós ganhámos e a vaca foi morta.
    (Uma arca de diamantes, é o teu insuficiente prémio)

    :))))

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    1. Mui agradecido pelo prémio Capitã, já tinha amantes, diamantes ainda nã!

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  2. King Saul Boulevard será devidamente informado, por despacho de Reboredo, ortopedista diplomado, das obras valorosas aqui narradas e que -- diga-se -- estão ao nível das melhores praticas lá ensinadas. Aguardai RSVP para visita.

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    1. Quantas honras... nã serei digno... mas se nã for inconveniente, Reboredo podia dar uma vista de olhos aos meus 8 joanetes... desde já mui grato!

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    2. (não acredites Trovisco, o Reboredo é um endireita...)

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    3. jura? e tanta estima lhe depositava... um endireita! ele que fique sabendo que serei sempre de esquerda, por muito que tentem, com ou sem joanetes, esquerda até morrer...

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  3. um brinde aos delírios do polvo-poeta!

    [não fosse esse tentáculo para as letras e uma imaginação tão gelatinosa, e marcava já um ajuste de contas, com naifa de ponta e mola, à porta do salão de chá. havia de voltar para o convés da sua Pirata, feito em saladinha de entrada...]

    a bruxa da zundapp agradece. um abraço.

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    1. muito lhe agradeço Bruxa, por me poupar a níveis de salada... :)

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  4. A minha alma está parva!

    ( nem consigo fechar a boca, tal é o espanto )

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  5. Piiiiii-rata, Polv-eco, eco, eco, ninguém ganha o que nunca teve. Assim que eu recuperar da displ-azia da anca, processar-vos-ei por infâmia. Como ousaram denegrir a nossa reputada imagem dizendo que não fazemos o buço?!?!! Isto é grave, muito grave. Entretanto, a Mumu (a genuína) manda beijinhos. Lamento dizer-vos, mas parece que cortaram mesmo o dálmata de alguém às postas. Otários!

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    1. Sempre a mesma desculpa, arranjam uma vaca nova e dizem que foi engano... já perdi a conta a quantas Mumus inventaram! cuidado com a reputação, bruxas sem buço... onde já se viu!!!

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  6. Nos bastidores [Manel, obrigada por este excelente texto. Simplesmente, maravilhoso. Cuca, Flor e Teresa, obrigada pela vossa companhia espirituosa e divertida. Gosto dos nossos recreios:) beijinhos]

    Esqueçamos, agora, este breve momento de fraqueza e voltemos à normalidade, isto é, às quezílias...

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    1. A vaca já nos deu esta peça de teatro maravilhosa. É a magia da blogosfera.

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    2. eu é que agradeço, sem personagens tão inspiradoras, e um bom texto pro plagio, nunca teria conseguido :D

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  7. Bom polvo à casa torna, com os anéis e os dedos, diamantes, segredos, amantes, joanetes, Macbeths, Reboredos. Três Bruxas sem eastwick, Grã Capitã, soldado ladrã, o pirata Gualtiero, Smilenska na despensa, Andhriminir afia a faca, a zundapp é que não escapa, Macbaca do Big Mac a baca, obistes, faz o buço ó pequena, sejas loira, ruiva ou morena, alma de polvo nã é serena, mas isto vai com calma, é tudo bem roubado, só preciso de um bife mal passado, e isso nã é pecado, já nadei um bom bocado, a minha vida é um perigo, sempre do lado do inimigo, a Cuca bate palmas, são um assombro as vizinhas, dividimos o dinheiro, e compramos novas palas e barretes com caveiras, nos mares não há fronteiras, para as nossas ladroeiras.

    Maravilhoso golpe de mágica. Muito bom, Dom Polvo.

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    1. Terei ouvido bem? Passam as bruxas por piratas com novas palas e barretes, com caveiras ou sem elas, passam assim num toque de mágica... antes eram inimigo, agora são aliado! mas que perigo, que alarma, lançai-vos ao mar mesmo que haja tormenta, perder a vida que seja, em filetes ou assado, tudo será preferível a findar meus dias a depilar pernas, virilhas, axilas e buços!!!

      Obrigado Dona Teresa, belíssimo comentário :)

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  8. meninos e meninas, atenção!

    Caros Senhores, Madames e Mademoiselles,

    cocheiros, aguadeiras e criadas de copa,

    pirataria, máfia russa, des/herdeiros de leste, multidão em geral,

    a história que aqui vos deixo​, delirium tremens à lagareiro,

    foi ouvida numa tasca borrasca, sem grande ostentação,

    não fosse o Polvo-poeta um monstrengo de estimação

    e a dita palavrosa acompanhada de muita zurrapa espiritual.



    falou de três belas bruxas,

    santa tríade da zundapp,

    e de uma vaca leiteira,

    que salvaram de ir para abate,



    depois, entre rodadas de bota(s) a baixo,

    findadas em copos vazios,

    misturou rum com gin,

    e toda a noite passou a espasmaçar,

    (rezando para não gregoriar).

    juntou-se-lhe um inglês mal-cheiroso

    que declamava poesia enrolada em cigarros de maconha

    e arrotava a frutos do mar.



    Sir William, de seu nome,

    deve ter iludido o Polvo poeta, que não era pateta, mas se deixou cair na peta,

    da pirata mulher,

    e eis a razão pela qual,

    cigano maltes,

    assombrado de mau-tempo,

    decidiu inventar,

    uma história de pasmar...

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    1. estou a aplaudir em pé! muito bom! :)
      (arrotar frutos do mar... brilhante!)

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  9. É MELHOR IR VER
    O QUE A FLOR ANDA A FAZER
    RETIROU OS COMENTÁRIOS
    PARA FORA DOS ARMÁRIOS
    :)))

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  10. Venham bruxas,piratas e corsários se fazem do polvo escritor de valor!

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