ombu

 

Buenos días, berrou o corpulento homem que bebericava chá numa chávena pequena, desconcentrando-me do estado meditativo do primeiro café. Aquele cumprimento levava-me o pensamento para muito longe e enquanto o homem falava pelos dois cotovelos, intercalando pequenos goles de chá, eu viajava. Buenos días. Era o que ela diria. Não tinha memória dela e, no entanto, bastara aquele cumprimento efusivo para automaticamente me lembrar dos seus olhos de avelã. Como era isto possível? Nunca havíamos partilhado o mesmo chão, nunca nos tínhamos cruzado na mesma estrada e, todavia, ela ali estava. Talvez fossem reminiscências de outras vidas, memórias que vinham à tona, abertas das profundezas por palavras-chaves. Imagino-a sentada à sombra de um ombu, ausente na leitura de um livro velho com as páginas ainda parcialmente unidas. A luz vai caindo aos poucos desenhando as sombras das folhas à sua volta. Sorri e duas covas aparecem no seu rosto.




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