personagem

 

O livro começava precisamente pelo nascimento do personagem principal em 2096, recebendo o seu nome em honra do capitão que tinha descoberto nesse mesmo ano o tal planeta habitável, para onde uma das gémeas seria enviada vinte e tal anos depois. Este personagem principal era uma das várias razões para o homem não estar muito satisfeito com o livro, mas omitiu este descontentamento aos jovens, pois na verdade ainda estava a meio e muita coisa podia acontecer até às últimas páginas. O homem é ainda um jovem que não completou trinta anos, diz o homem que junta migalhas distraído. É casado, mas está apaixonado por outra mulher e por isso deixa a cidade e a casa que partilha com a esposa para ir procurar a mulher na tal ilha onde fazem as experiências. Ninguém ousa interromper a narração do homem, nem mesmo a chuva que parou subitamente e se sustem lá no alto expectante. Mas esta mulher que trabalha no tal centro onde fazem as experiências e tem como função cuidar de um par de gémeas como se fosse mãe delas, não parece estar apaixonada. Dá ideia até que arranjou este trabalho para fugir dele. Ela conta-lhe o que fazem no centro, do uso do medo para activar a comunicação mental entre as gémeas. O homem no início acha horrível, mas depois consegue compreender que estão em risco várias vidas humanas e interessa-se por saber mais, acabando por integrar na equipa que mede a amplitude da comunicação, não sei se realmente interessado no trabalho ou se apenas porque assim tem a oportunidade de passar mais tempo com esta mulher, que lentamente parece mudar de ideias. Um quase inaudível suspiro escapa de uma das jovens. Os outros riem baixinho, mas logo voltam ao silêncio. Lá chega o dia em que fazem a experiência com as gémeas que estão a cargo da mulher e os resultados são muito superiores a todas as experiências anteriores. Usam o holograma de uma das criaturas aparentemente pacificas que habita no tal planeta distante, os gin, para assustar a gémea mais espevitada, enquanto a irmã está noutra zona distante do edifício. Os quem? interrompe a jovem de olhos vivos. Gin, repete o homem. Como a bebida? Pergunta outra das jovens. Sim, como a bebida... mas acho que não há relação nenhuma... é só um nome, tenta explicar o homem, com a  paciência a esgotar. Continua por favor, pede a jovem dos suspiros. Então o medo cria a ligação esperada entre as gémeas, mas também é sentida por todas as pessoas em redor, principalmente pela mulher a quem as gémeas chamam mãe. A partir daí algo muda. Ninguém sabe explicar se é algo que cada pessoa sente ou se é uma sensação coletiva. Em torno daquela região começam a registar-se fenómenos estranhos: as árvores ganham de novo folhas quando estas haviam acabado de cair, os campos ficam floridos, as aves não migram e os animais abandonam as tocas de hibernação. E para já é isto, disse o homem, levantando as canecas e os frascos da mesa. E a raposa? Perguntou o rapaz dos dentes de coelho. Esqueci-me dessa parte, diz o homem, seguindo com o olhar um bando de estorninhos que se dividia no céu em dois. 




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