flugas

Às vezes não sei se vivi ou se sonhei, e as memórias parecem à distância, doces infusões da realidade.

Tinha começado o dia a fazer fórmulas leucocitárias e à quarta contagem, o número de linfócitos continuava a ser demasiado elevado. Zerei mais uma vez o contador. Não sei quanto tempo estive a observar pelo microscópio, distraído com as granulações alaranjadas dos eosinófilos, perdido entre a cauda e a cabeça do esfregaço. Podiam ter passado trinta minutos ou vinte e quatro horas. Deixei a cabeça descair no encosto e talvez tenha adormecido. Coisa rápida. O monitor informava que estava a menos de dois parsecs de casa e Rijl al-Qanṭūris ficava para trás, como dois olhos iluminados na tela negra da imensidão. Os dias estavam confusos e cada vez mais curtos. Reguei as favas e as ervilhas-anãs com os setenta centilitros diários e preparei um chá de limonete espacial. Puxei a terceira lição de esperanto e soletrei com muitas dúvidas: La birdo flugas! 



Comentários

  1. estou daqui a ver o pardal gordo a enxotar todos os outros do prato da aveia. e voam.

    ResponderEliminar
  2. eu, por acaso, é mais bolos...
    que raio de mezinhas é que tu andas a fazer?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. eu adoro bolos!
      https://www.youtube.com/watch?v=0Zc0eJOrI1k

      Eliminar
    2. Destes também mas isto não responde à questão...

      Eliminar
  3. Olá, Manel...

    Hoje vou ser breve pois já vi que tu não andas para grandes conversas.

    Pois, quer seja de cabeça deitada na almofada ou de nariz virado
    para o ar, a olhar o firmamento, o que eu sei é que passas a vida a flugar.

    Fluga, fluga Manel, qu' isso é bom...

    Beijos. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. são as palavras, Janita, elas nã querem sair...
      mas mi flugas, sempre que posso
      beijos, múltiplos, na falta de palavras

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares