ecoponto

Talvez seja esse o propósito: estou aqui para aprender a difícil arte do desapego. volto a sentar-me. ninguém se manifesta. o professor faz sinal ao próximo que se levante. se calhar estou na turma errada. não ouvi nada do que foi dito até agora. o meu cérebro ficou aprisionado na saliença da sua clavícula. ela tem das mais belas clavículas que já vi. preciso urgentemente de a deslargar ou perderei o interesse antes do fim do primeiro semestre. sou mesmo um péssimo aluno. começar por pequenas coisas, objetos, distinguir o que realmente faz falta daquilo que não necessitamos. diz o professor. durante a missa também não ouvi nada, só pensava na quantidade de afeição que deixei em objetos e que após a minha morte, deixam de ter qualquer utilidade. imaginei os meus pais a desocupar o sótão, o ecoponto cheio da minha existência. haviam de fazer uma pilha e queimar-me com todos os meus pertences. principalmente as palavras. todas as que deixei depositadas em cadernos, gostava de arder no meio delas. 


Comentários

  1. por que será a (auto)destruição sempre tão bela?

    um beijo, Manel.

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    1. porque nada se perde... tudo se transforma.
      beijos, flor.

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  2. Ele de facto há clavículas que nos prendem :)

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  3. Ui, deste em eremita? Entraste num mosteiro e estás a pensar casar com Deus e abandonar todas as coisas para melhor o servir?
    Deves ponderar isso da clavícula como um aviso, se calhar não levas jeito...os mosteiros são giros e tal mas não percas aí muito tempo, tá?

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    1. I'm too hot (hot damn)
      Called a police and a fireman
      I'm too hot (hot damn)
      Make a dragon wanna retire man
      I'm too hot (hot damn)
      Say my name you know who I am
      I'm too hot (hot damn)

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  4. Do ecoponto vai-se para a reciclagem, não para a incineradora. Queres mudar de vida?

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  5. Todos nós um dia seremos:pó, cinza e nada, mas não tenhas pressa nem queimes nada.
    Sobretudo as palavras.
    Deixa que elas pairem no ar e poisem no coração da dona da clavícula.:)
    Suavemente...

    Beijos, Manel.

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    1. tenho de esquecer as clavículas... e voltar a encontrar palavras.
      beijos, Janita

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  6. Não queiras aprender o desapego, cigano.
    Quando damos conta ele aprende-nos.

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    1. o apego é uma coisa quase extinta... o amor já podia estar em exposição num museu de história natural...

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    2. O Desapego é bom.. tudo aquilo que liberta é bom. Já o Amor é um filho da puta mascarado de Herói.

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    3. Stormy, you nuts :)

      é uma história natural, quimicamente - naturalmente, o que é magnífico! - falando, mas absolutamente construída, no que ao amor toca. Evidências destas, já deverias conhecê-las (labrego: allow me :P)

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    4. labrego, tu, sim, mas gosto de ti assim mesmo :)
      (quem não o é, from time to time? :))

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  7. Que tal começares por experimentar os tons que ficam por entre o tudo ou nada - o preto ou branco?
    Tu nunca perdeste as palavras, andas é distraído com clavículas lindas de gente mal amanhada :~))

    Beijo daqui até aí, afilhado mailindo quinté

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    1. Perdi sim, madrinha, mas elas andem ai... se as encontrares, é muito fácil de dares com elas, ata-lhes um baraço e logo já as apanho ;D

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  8. Ai, Manel, andas tão arredio que cá pra mim, já anda aí moura na costa...

    Beijos, Manel Mau (bom)-Tempo!! :)

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