mãe
Os seus dedos trazem tinta, sobretudo amarelos e verdes claros, com que me acaricia o rosto. Cheira a mãe. Quando nasci, ela diz que esqueceu tudo o resto e viveu para os dois, como se saído da sua barriga, juntos tivéssemos entrado noutra barriga, só os dois. Sempre imaginei uma barriga de baleia, decorada com os seus quadros pintados pelos dedos, cheia de histórias de adormecer que ela inventava, e o seu cheiro em cada poro. Estive dentro dela mais de nove meses, e depois mais vinte pelo menos dentro da baleia. Um dia tivemos de sair, outro dia fui para longe. Mas há qualquer coisa que suplanta todas as outras, uma invisibilidade que nos liga e a sua voz derruba a distância, afasta a infelicidade trancada nos olhos. E quando chora, que eu sei que chora, esconde as lágrimas num lenço que dobra em três partes. E então falamos das sombras das árvores, das velas dos barcos, do amarelo do trigo que cresce lá em baixo, da corrente do rio, do pó da terra que lhe comia a garganta. Quer que oiça o coaxar das rãs a meio da tarde. Quer que eu veja todas as cores num traço de preto. Quer que eu sinta as suas mãos que me amparam o rosto. Eu quero ouvir, ver e sentir. Eu quero o tempo em que vivíamos numa baleia.
Illustration by Ciaran Duffy
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Manel, tão ternurento o teu texto... A tua mãe costuma ler-te?
ResponderEliminarnem sonha :)
EliminarNão gostavas que ela visse?
EliminarEscreverias da mesma forma caso soubesses que ela lia?
se soubesse que ela lia, tentava escrever coisas mais divertidas :)
EliminarNão há como comentar...
ResponderEliminarSó deixar um beijo para ti e outro para ela.
devia ter fechado a caixa...
Eliminarbeijo
Não há como comentar...
ResponderEliminarSó deixar um beijo para ti e outro para ela.
Faz de conta que há uma baleia ainda maior que afinal mantém toda a gente junta dentro da sua barriga. :)
ResponderEliminarisso é bonito :)
EliminarQue maravilha. És mesmo um caranguejo.
ResponderEliminarum caranguejo com síndrome de polvo :)
Eliminarfizeste-me chorar por tantas razões...
ResponderEliminarnã era esse o propósito... até porque foste tu que me empurraste...
Eliminar:)
nã chores...
És um filho cheio de mãe. Lindo! Espero que te leia.
ResponderEliminarmenino da mamã! :)
Eliminareu tambem tenho saudades de morrer do tempo em que estávamos os 6 dentro da baleia...
ResponderEliminar(bela aguarela).
anonima
ena, tantos :)
Eliminarna verdade somos só (só???) 4...mas quando penso nos manos...gosto de pensar no pai e na mãe tb. na família toda :):)
Eliminaranonima
Este é o lado real do mê afilhado mailindo quinté
ResponderEliminarEste é o lado que o preenche e tantas vezes esconde, num lado obscuro, que não acredito existir.
E eu adoro, ser madrinha deste puto :))
toda a gente tem os dois lados, eu tenho pelo menos 9... :)
Eliminaro que seria de mim sem uma madrinha assim :)
Para lá de bonito :)
ResponderEliminarMãe é sempre Mãe, é a protecção eterna
Beijoquinhas :)
obrigado vizinha, andava a guardar as palavras da mãe...
Eliminarbeijo
A propósito disto,
ResponderEliminarEla é aquele querido polvo de cujos tentáculos nunca escapamos completamente, mas nem no mais íntimo dos nossos corações desejamos que tal aconteça.
Doddie Smith (1896-1990)
estava até hoje convicta de que ter oito braços, era o meu ideal de mãe.
Mas, assim, prefiro ser baleia — ainda por cima, azul.
mas mãe polva parece-me perfeita :)
EliminarTão intensamente bom ler-te, Manel.
ResponderEliminarEu, Mam'Zelle-bruta-ruim-e-insensível, me confesso. Emocionei-me.
Nunca escrevi à minha mãe nada para além dos 'gosto de si' habituais, nos postais de anos. Agora, fiquei com pena de não ter escrito mais qualquer coisa, enquanto a tive cá para me ler.
pior serei eu que escrevo e nã lhe mostro...
Eliminarmas tens razão, devemos mostrar o quanto amamos, extravasar os afectos, sem receio do ridículo... beijo de oito patas querida Mam
Achamos sempre,ou pelo menos não pensamos muito no assunto, que aqueles que amamos não poderão desaparecer de um dia para o outro, sem despedidas, e fica tanto por dizer...(faço minhas as palavras de Mam`Zelle, último parágrafo).
ResponderEliminarLindo, o teu post, Manel.
obrigado Té, se calhar um dia temos de começar a dizer mais... se calhar hoje é o dia :)
Eliminarbeijo
Eu continuo a falar com a minha embora não tenha a certeza se ela me ouve mas quero e preciso de acreditar que sim.
ResponderEliminarQue texto bonito, Manel!
nunca deixes de falar :)
Eliminarobrigado Ava
Tão bonito.....
ResponderEliminarGostava que um dia um filho meu me escrevesse assim :)
obrigado, se nã escreverem, acredito que pensem em algo assim :)
Eliminar:)
ResponderEliminar______
p.s. - estás perdoado pela merda do tarifário meteorológico por encomenda.
ehehehehehe, mas eu para ti mando entregar de borla...
EliminarQue bonito está este mar... :)
ResponderEliminarmuito agradecido :)
EliminarHá essa coisa íntima, invisível e maravilhosa que só uma mãe e um filho sabem como é.
ResponderEliminar(tão lindo, Manel. quero pensar no meu filho assim)
Beijos, Stormy boy :)
certamente será melhor filho que eu :)
Eliminarobrigado, beijos Tutu