marabunta

Consigo imaginar o céu carregado como me descreve, os seus passos aligeirarem junto às ameixoeiras nuas, terá desviado o guarda-chuva para contemplar as pequenas flores brancas que por mistério desabrocharam durante a noite, tocando-lhe o borriço no rosto. Toma então a carreira com um sorriso de Gioconda na boca; imune à chuva, ao relógio, aos solavancos do percurso. À sua frente uma mãe senta-se com a criança ao colo, um cavalheiro prontifica-se para ceder o lugar, mas a senhora diz que a criança é leve como uma pena; não come, esse é o problema e repete duas ou três vezes sempre a mesma lengalenga. A minha mãe concorda e sorri, não dá conversa a estranhos, para si confessa que teve sorte, principalmente com o mais velho, aos dois meses já lhe dava suplemento, pois o gaiato berrava e as mais entendidas diziam-lhe que aquilo era fome, e era mesmo. Lembra-se dos dias em que chegava do treino, deixava-lhe o jantar na fornalha e ele rapava tudo, e depois corria os armários, e não havia bolachas, ou pão, fruta, cereais que saciassem o apetite voraz. Ainda foram ao registo tentar mudar-lhe o nome, mas na altura não admitiam Marabunta como nome próprio.

 

Comentários

  1. ahahahahah

    Vai lá comer prá argélia meu!

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  2. Não podia ser, porque Marabunta só há um e esse já tinha nascido e ficado com o nome.

    https://www.youtube.com/watch?v=JLNENAanlWk

    Um beijinho, Manel :)

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  3. Sim, uma lombriga enorme, tu e o do vídeo da Miss Smile, jesus credo! :))

    ( mas pronto, estamos 'in a sentimental mood', saudades?)

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  4. Manel, o teu texto é tão doce... e ainda lhe juntaste uma música linda. :)
    Muito bom!

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    1. das conversas com a progenitora saem coisas assim... se ela soubesse :)
      obrigado!

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  5. Também podia ser Sebastião.
    (...Come tudo, come tudo. Come tudo com colher)
    :)

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    1. Sebastião também era conhecido pelo Desejado... podia, podia mesmo :)

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  6. Era uma vez um menino...

    que não queria comer sopa de letras.
    Podiam lá estar coisas bonitas escritas,
    mas para ele era tudo tretas...
    Podia lá estar escrito COMER,
    podia lá estar GOIABADA,
    Como ele não sabia ler,
    a sopa não lhe sabia a nada.
    Tinha no prato uma FLOR,
    um NAVIO na colher,
    comia coisas lindíssimas
    sem saber mas ele queria lá saber!
    Até que um amigo com todas as letras lhe ensinou a soletrar a sopa.
    E ele passou a ler a sopa toda.
    E até o peixe, a carne, a sobremesa, etc....


    Manuel António Pina

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    1. e sopa... o que eu gosto de sopa, e de letras, e outras coisas... que nã interessam...

      (agradecido, nã conhecia :)

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  7. saudades e lombrigas e bichas solitárias...tudo a mesma coisa...solitárias :)

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    1. ia dizer bichas, mas nã quis ferir susceptibilidades...
      no fundo tudo está universalmente ligado, mesmo em solidão.

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  8. O teu texto fez-me reflectir sobre uma temática bastante verdadeira nos dias que correm... Há pessoas que comem, não por fome, mas para preencher o vazio que sentem. A única forma de escapar à solidão e sentirem-se, naquele momento, confortáveis.

    Deixo-te um beijo, Manel. :)

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  9. Adorava ter-te conhecido há uns anos. VInhas de mansinho, comias o meu almoço sem a minha mãe ver e eu já não ficava toda a tarde de castigo eheheh

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    1. toda a tarde? e comias o almoço ao jantar? que estranho... :)

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    2. Há pois é :)) ficava de castigo até o comer, fosse a que hora fosse. Eu nunca queria comer...

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    3. foi uma pena realmente, teria comido o teu almoço com todo o prazer :)

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