mintaka
A noite apressou-se gelada sobre a tarde, varrendo inelutável
os últimos resquícios luminosos de dia. Nas sombras das copas nuas, uma aragem de
nordeste roçava as folhas caídas, empurrando até à clareira um manto esparso de
nuvens. Deixei-me sentado no frio, esperando paciente a chegada das três
Marias, alinhadas no centro da constelação de Orion. Aprendera com ela os nomes,
deitados numa noite sem lua em cama de erva crescida, mas das que constituíam o
cinto do caçador, só Mintaka sobrevivera aos dias. O céu continuava idêntico, imutável
sobre nós, correndo o escorpião atrás do caçador e do seu cão pelo firmamento, sem
nunca o alcançar. Podíamos ter sido assim, constelações opostas cruzando os
céus, mas a vida é lacónica e desesperadamente seguimos o afastamento de dias
passados, terras estranhas de permeio, crescendo a distância na medida do que
se perde na memória. Ontem um nome de estrela, hoje um beijo mais ardente na
reentrância de uma tarde. E lembro-me, ou tento lembrar-me de cada fragmento, encostada
a um freixo já velho, de corpo lânguido escorrendo sobre a casca, o cabelo
solto por onde meus dedos passearam, galgando a morna e tremente pele coberta e
na boca o desejo esperando, sem pressa que a noite tem dono. Lentamente, como o
papel que se desfaz na água, a memória do seu riso, do seu cheiro, de cada
palavra dita fervendo de amor, desvanecendo num rio de esquecimento.
Se olhasse para oeste, talvez ainda conseguisse um vislumbre
de escorpião a desaparecer no horizonte.
Não te esqueceste do nome Mintaka. A pele não conseguiu apagar da memória a noite sem lua deitada em cama de erva crescida.
ResponderEliminarDeixo um beijo Manelito:)))
é o último dos nomes... já pouco resta. beijos ao quadrado
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
Eliminarfaltou-me o beijo...
EliminarBonita e inteligentemente construída esta tua "constelação", em que as palavras e os sentires brilham como estrelas fulgentes num céu de tela negra.
ResponderEliminarComo canta Melody Gardot:
"If the stars were mine I'd give them all to you
I'd put those stars right in a jar and give them all to you"
E se já só te resta a Mintaka, eu não te posso oferecer as minhas estrelas, mas empresto-tas.
Depois, devolve-mas, que me fazem falta...
Beijo
devolvo sempre tudo... aos poucos, ossos, ligamentos, pele... vai tudo!
EliminarObrigada por devolveres o que me pertence. Assim, voltarei a emprestar-te o que necessitares. Mas cuidado com o que pedes...(sorriso).
ResponderEliminarFeliz Natal e um excelente Ano de 2015 para ti e para os teus.
Beijo
PS. Meu querido, estou a ficar louca com esta coisa do google+. Irra!
Não fui notificada do teu comentário e os meus comentários aparecem em duplicado, ou então desaparecem por magia que me é incompreensível.
Tem paciência e apaga o que estiver a mais, se fazes o favor. Obrigada.
nunca pedi muito... espero que o natal tenha sido feliz, um bom ano é o que te desejo.
Eliminarquanto ao ps, para seres notificada julgo que é preciso colocares um visto na caixa do notificar-me... julgo... nã tenho a certeza, vá...
Eu sou escorpião! Mas não desapareço. Estou sempre no mesmo sítio... Até me canso de estar parada.
ResponderEliminarjá senti a ferroada...
EliminarEntão é aqui que se comenta?E temos que ter um coiso destes?Estou mesmo Aleste
ResponderEliminarqual coiso destes? pode ser aqui... mas ainda nã sei como se sabe que alguém comentou... e depois é isto
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