rubicundo



O homem que ansiava fechar os olhos e acordar uma semana depois, sofria de uma estranha condição de fobia social. Assim que se despia na presença de estranhos, um súbito afluxo de sangue corava-lhe não só o rosto, mas também o torso. Um fenómeno raro descrito pela primeira vez por um dermatologista que fez questão de o observar minuciosamente com uma enorme lupa, reparando nessa mobilização do sangue que não atendia a nenhuma necessidade fisiológica. É provável que tenha sido este sinal constrangedor que o safou do serviço militar, mas lembrava-se de pouco, ou esquecera muito. Passou para a sala seguinte, a vista era idêntica, mas agora a meio sobressaia uma mesa de massagens. No canto mais afastado da janela, havia uma cadeira onde deixou a roupa impecavelmente dobrada, ficando apenas de boxers e meias. Sentia o calor aflorar-lhe, o coração batia mais ligeiro e na testa formava-se uma goteira, em segundos ia parecer um camarão demasiado cozido ou um inglês que adormeceu na praia. Tirou as meias e enfiou-as no bolso do casaco, estavam de tal modo húmidas, que desenhara no tatami duas formas estranhas ressoadas, muito parecidas com feijões. Sentou-se na mesa junto ao monte ordenado de turcos negros, uma música suave enchia a sala, talvez fossem cânticos, sentia-se mais calmo, mas podia ser do incenso. 


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