mala
Sou péssimo com números, sempre fui, é como se não
encaixassem em lado nenhum, insípidos e frios, desprovidos de colorido, e o
problema não se resume a decorar números de telefone, é mais abrangente que
isso. Lembro-me da dificuldade que foi aprender as horas, a tabuada, as medidas,
mas quando substituía os números por letras, como na numeração romana, tudo
fazia mais sentido.
O idiota do meu primo era muito melhor com os números, todas
as manhãs decorava o valor que existia na “mala” e a minha avó ficava à espera
que o António Sala ligasse e era uma emoção ganhar cinquenta contos ou o valor
que lá estivesse. Só conseguia imaginar uma mala gasta, com os fechos
avariados, cheia de notas de quinhentos, e punha-me a tentar calcular quantos
gelados de gelo poderia comprar com tanto dinheiro, e por isso nunca conseguia
estar atento ao valor, ainda menos decorá-lo, e assim a minha avó tinha uma predilecção
pelo idiota que decorava números. Aquilo aborrecia-me porque ele não sabia ler MCMLXXXVI,
mas decorava o valor que estava na “mala”.
És de letras... nada de mais.
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