medo

Quatro letras, sete vertical, ausência de coragem, apreensão ou receio…

Pagou a despesa e antes de descer, remexeu o conteúdo da bolsa, depositando a totalidade dos bens no cimo do balcão. Visivelmente irritada, arrumou tudo à pressa e ao passar por mim hesitou, mas não me abordou. Encontrei-a novamente na rua, um pouco acima da entrada do bar, abrigada da chuva na escuridão de uma noite sem lua, mortificava um cigarro que se acendia mais intenso cada vez que parava nos seus lábios viciosos. Um sujeito aproximou-se, segurou-a pelo braço, o tom de voz elevara-se mas a chuva a esquartejar o paralelo não me deixava entender o que diziam. Aproximei-me.

Só cá faltava Sir Lancelote no seu corcel branco.

Sempre teve o dom da palavra, é um talento natural. A boca abria-se e jorrava coisas assim, apanhando-me desprevenido. Respirei fundo para não gaguejar e perguntei se ela queria que a levasse a casa. O sujeito baixinho, careca brilhante sob o guarda-chuva, já não a segurava pelo braço, no entanto continuava a insistir que ela o devia acompanhar à esquadra, não pode fumar assim aqui, dizia o individuo, é uma irregularidade.
Sou inspector-adjunto, pode ir à sua vidinha que de irregularidades trato eu. O cão pequeno vacilou, pouco persuadido pela mentira débil, quebradiça, sem cabouco que a segure. Oh homem, ainda ai está? Vá-se antes que o leve a si por desrespeito à autoridade. Mas o abelhudo não arredava pé, já o cigarro chegava ao fim e a criatura mastigava-me os calcanhares. Tirei do bolso um cartão que apresentei perante os seus olhos gordos inquisidores, podia ler-se em letras garrafais, polícia internacional e de defesa do estado. O suficiente para escorar a mentira que agora crescia, imenso arranha-céus por cima de nós.



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