oitava
A vizinha tinha dois temas prediletos: o tempo e os gatos. Sempre que esse estranho silêncio sentava no transporte entre os dois, a mulher puxava de um dos assuntos como um mago que puxa coelhos da cartola. -Hermínia! Se é feminino é porque é mais tempestuosa. Especulou a vizinha, enquanto sacudia as gotas de chuva do capote. Não podia imaginar que estava ali na presença da mais alta aristocracia das intempéries, uma divindade temporal, um mestre climatológico que nunca se cansava de explicar o fabuloso sistema de nomeação de tempestades que ele próprio inspirara nos humanos. Para ela, ele era um simples funcionário apático e cansado, de uma repartição qualquer do estado, que ele inventou na hora quando a vizinha o interpelou pela sua ocupação. Não lhe ia responder que era o fazedor de toda aquela tormenta, que aquele vento que os tolhia tinha sido fabricado por ele mesmo nessa madrugada, à força de muito braço no lagar, e aquela saraivada terrível, dois dias antes, compactada e ...