urticária
Sr. Polvo estava tão absorvido em pensamentos que deixou seis dos seus braços a trabalharem mecanicamente a grande velocidade, estando o sétimo definhado, mais murcho que uma uva passa, depois de sacrificado durante a noite num ataque de melgas marinhas. Sobre o oitavo… toda a gente sabe que esse é um hectocótilo, ou braço modificado e não é usado para este tipo de tarefas.
-Mas o que é isto? Gritou o encarregado, um descomunal piraíba de grandes bigodes que transpunha a custo a entrada. O Sr. Polvo automaticamente parou todos os seis braços, ficando cada um suspenso, segurando na extremidade tentacular uma parafernália de ferramentas perigosas.
-Eu disse especificamente que era para aplicar Aequorea victoria bioluminescentes nesta secção, com um distanciamento máximo de dois virgula cinco metros entre medusas. O Sr. Polvo desceu do escadote e deu meia dúzia de passos à retaguarda até junto da porta, para usufruir da perspetiva do Sr Piraíba, o encarregado.
-Mas estão todas perfeitamente alinhadas e distam precisamente dois virgula cinco metros entre si. Justificou o Sr. Polvo, limpando os óculos à extremidade de um tunicado que por ali passava.
-Incompetente! Aquilo ali pendurado são Stomolophus meleagris! Vociferou o encarregado, sufocado por uma máscara de algas que o levava a querer arrancar os fartos bigodes que lhe ladeavam a boca.
O Sr. Polvo levantou a cabeça incrédulo para as coroas de tentáculos que pendiam do tecto, constatando que o encarregado tinha razão e que havia pendurado as medusas erradas. Teria de as substituir uma por uma, pensava, envolvido por uma sensação gelatinosa de desânimo e urticária.
-Vamos lá polvo (homem), está à espera de quê para corrigir isto? Voltou a atacar o encarregado. Mas o Sr. Polvo já esgotara toda a paciência em pastilhas, saquetas, cápsulas e por isso foi largando as ferramentas dos tentáculos de forma dramática enquanto se encaminhava para a saída, ignorando o encarregado.
Uma chuva muito fina
começou a cair quando o Sr. Polvo se pôs a caminho de casa, acompanhando-o no
seu alheamento de espírito e olhos confinados no chão. É difícil para um
narrador saber exactamente como as coisas sucedem, mas o que vos conto foi como
aconteceu. Ia o Sr. Polvo meditativo e cabisbaixo num lado da rua, quando, do
outro lado, a presença de Menina Lulinha foi como sentida à distância e de
imediato levantou os olhos, a cabeça, todo o tronco, pois um polvo é
praticamente cabeça e pernas. Era ela, tinha a certeza, apesar de ter o rosto
parcialmente escondido por uma máscara às pintas e mudado o penteado. Esta
parte agora vou fantasiar um pouco, mas quase acredito que os três corações do
Sr. Polvo começaram a bater num descompasso frenético. Como era bonita,
suspirava. No momento em que decidiu levantar os seus vários braços e acenar
para a Menina Lulinha, o choco encorpado do noivo apareceu e foi ver o polvo
mudar de cor até ficar do tom pálido, quase branco da parede.
episódios anteriores em
Kałamarnica e o Bolo do Sr. Polvo
Mas nada corre bem ao Sr. Polvo?!
ResponderEliminarVou procurar os episódios anteriores...
os bolos correm :)
EliminarUm gin bem fresquinho ajuda a esquecer isso tudo!
ResponderEliminarHabilidade para continuar a história não tenho.
Tomara eu não ofender com algum comentário mais brincalhão.
Um abraço do Algarve,
Sandra Martins
oh, ouvi dizer que o Sr. Polvo anda a evitar os vícios... o que o deixa ainda mais mal disposto :)
Eliminarnunca ofendes, há pouca seriedade neste nível
abraço
Pois, eu tenho que manter o distanciamento social desses "maganos". A balança começa
Eliminara ter muitos ciúmes da nossa amizade.
Tive um professor de matemática que dizia que "se os conselhos fossem bons, vendiam-se, não se davam". Mas eu nunca fui boa aluna a Matemática.
Por isso cá vai: descansai Sr Polvo que o que tiver que ser nosso, á nossa mão vem parar.
Um abraço do Algarve (deve ser engraçado um abraço de um polvo!)
Sandra Martins
abraço de seis braços por estes dias :)
EliminarEu ainda tenho esperança que a D. Lulinha...(tipo o Amor nos tempos de Cólera).
ResponderEliminar~CC~
é parecido... amor nos tempos de Pandemia... ou desamor!
EliminarContratei o Agente do Ó -- a trabalheira que me deu chegar à fala com ele?! -- e sei de fonte segura, que essa urticária que sentes, não foi provocada por melga alguma, isso é obra dessa insidiosa alforreca que usa o nome pomposo de medusa, se expande e contrai em orgásmicos movimentos, pronta a te envolver na líbido viscosa ou lá o que é aquela coisa nojenta, abjecta e peçonhenta que ela usa para te imobilizar os tentáculos e, quiçá, a tal oitava perna. Lambona!
ResponderEliminarE mais não digo....
É lá, que eu gostei deste seguimento :) a Janita tem jeito para o romance ♥️
EliminarPolvo, não sofras, que a vida é curta e em breve um meteorito acaba com isto tudo!
(temos de partir os dentes a esse choco pintado de m#erda!)
EliminarAhahahah...sou uma eterna romântica, Flor!!
EliminarPois é isso, temos que ir em socorro deste polvo entristecido, a ver se a Menina Lulinha lhe descobre as qualidades. Esse tal polvo encorpado - o noivo - não nos mete medo, ora essa!
Ele, o nosso polvo é que se deixa abater em vez de ir à luta...ah, se fosse connosco...:)
Abraços e beijocas repenicadas aos dois! :)
O noivo é choco, é apertar lhe as partes e tinta-se todo!!
EliminarE o 🐙 já merecia uns tempos de romance, sim senhora!
só se for com muita imaginação é que o polvo arranja uma ameijoa, ou sardinha... isto está cada vez mais negro, como a tinta
EliminarDe repente lembrei-me do choco frito de Setúbal, só para destoar um pouco [risos]
ResponderEliminarTarde boa, Manel
que saudades de Setúbal e de um restaurante ali perto da praça de toiros... será que ainda existe?
EliminarBoa tarde tudo bem?Desculpe o encomodar. Sou brasileiro e procuro novos seguidores para o meu blog. Novos amigos também são bem vindos, não importa a distância. No mais desejo muita saúde para você e sua família.
ResponderEliminarhttps://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1
obrigado Luiz, saúde para ti também e para a tua família
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