Yahweh
Aponto no pequeno caderno enquanto está fresco. Sei que no momento em que sair de casa já terei esquecido, um sonho inteiro completamente obliterado da memória. E mesmo que algum fragmento salte como uma farpa que se solta da madeira, será só essa pequena e incómoda lasca, a latejar debaixo da pele até chegar ao trabalho. Por isso corri para apontar que a rua estava esburacada. Depois pensei que enormes crateras era muito mais específico. Era mesmo isso, havia enormes crateras onde antes teria existido uma estrada ou um parque, e na borda dessas enormes crateras, amontoavam-se motociclistas. Era muito específico, todos eles esperavam algo, todos tinham motas antigas, daquelas barulhentas, mas que no sonho estavam paradas nas bordas, à espera. Conduzia por entre as crateras, os motociclistas e outros carros, devagar, mas sem nunca bater em ninguém. Parecia por vezes impossível que o carro conseguisse atravessar partes omissas da estrada, mas estava confiante. Quando cheguei onde precisava com alguma urgência, terei parado o carro na rua, mas demorei mais do que pretendia, pois uma moça tinha desmaiado no passeio e fiquei com as outras pessoas para ajudar. A rapariga não tinha cor, a cabeça era demasiado longa e estreita, quando abriu os olhos, achei mesmo que ela parecia um polvo num corpo esguio de rapariga. Voltei ao carro, mas já lá não estava. O meu carro tinha desaparecido, mas não conseguia lembrar-me precisamente onde o tinha deixado e como é que no meio de tanta cratera, alguém o pudesse ter considerado mal estacionado. Perguntei a quem estava por ali, se tinham visto o meu carro. Só depois de interrogar algumas pessoas é que me lembrei que era um Corola. Preto. Como tudo o que estava no sonho, excepto a rapariga que não tinha cor. Foi aí que o meu pai apareceu e ele também não tinha visto o carro, mas não parecia preocupado. Ajudei-o a ligar umas mangueiras e uns tubos e acabei por não pensar mais no assunto. Ele depois ligou um pequeno aparelho e conseguíamos ver o que acontecia no interior do tubo que entrava na terra. Era como um raio X de um tubo de esgoto que desaparecia no interior da rua e quando a gata grande e preta lá entrou, seguimos os passos dela por uma estreita abertura rodeada de múmias egípcias, algumas com ossos de gatos, outras vazias.
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punhal de Gebel el-Arak |
Pelo teor do sonho, quase diria que esteve na concentração de motas, em Faro, no último fim-de-semana.
ResponderEliminarUm abraço, Mau-Tempo!
Sandra Martins