milionário

 Sr. Polvo nunca tinha sido tão rico. Mas rico não no sentido que a maior parte dos moluscos e bivalves entendem. Ele não tinha uma fortuna amealhada, como aquela enguia milionária dos veículos elétricos, nem era proprietário de fundos oceânicos e fossas abissais. Também não ostentava os sinais que habitualmente são visíveis nos ricos, como grandes joias e relógios a ornamentar os seus tentáculos, ou o uso de certas marcas conceituadas e fabricadas para quem deseja esclarecer os outros do seu estatuto. Aliás, se observassem com atenção, o Sr. Polvo cada vez mais se parecia com um ermita, o que para alguns seres marinhos seria o mesmo que um sem-concha ou sem-abrigo. E contudo ele considerava-se rico, riquíssimo até, porque finalmente tinha um pedaço só seu para cultivar Calystegia soldanella, mais conhecida como couve-marinha, bem como posidonias e diversas variedades de thalassias. Era nesse mar cultivado que o Sr. Polvo via a sua maior riqueza e era a pensar nela que todas as noites adormecia, dando graças pelo tecto e pela cama quente. Sim, isso também fazia parte de se ser rico. Era um dos poucos privilegiados, pensava, que tinha uma toca quente e abrigada, livre de encargos. 

Watercolour on Paper by Ian McConaghy


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