esquisso

 A mulher girava com grande facilidade, bem equilibrada nuns saltos que não seriam assim tão altos como primeiro imaginou, num soalho velho e gasto, que conhecia intimamente. Novo rodopio, nem uma tábua rangia, nenhum movimento em falso. Não foi imediato. Foi como uma infiltração, ou como quando o pó vai assentando, camada em cima de camada, gradualmente sem se dar conta. Haverá na realidade qualquer superfície que esteja isenta de um átomo de pó? Foi assim que se formaram montanhas, pensava o homem e de novo era arrastado pelo toc toc sincopado dos saltos que ecoavam no silêncio. Era simpática sem ser artificial, mas a estranha familiaridade vinha de um outro atributo, só muito mais tarde reconhecido. Não seria o penteado, ou a blusa um pouco transparente. Não se lembrava dessas coisas, era impossível recordar-se qual a cor favorita, ou se usava batom, mas à parte disso eram realmente muito parecidas.


escritos encontrados num pequeno caderno de uma era sem data



Comentários

  1. Gémeas separadas à nascença ou o esboço e a obra terminada?
    O desenho é belíssimo. E tem a minha cor preferida, que o preto faz realçar. Foste tu o autor?
    Beijos, Manel!

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    1. nã sei, nã consigo lembrar da mulher ou da situação :) o desenho infelizmente nã é meu, nã sou assim tão talentoso... eu é mais polvos :D

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  2. Há pessoas muito parecidas...quando a minha filha às vezes entra em casa eu até me assusto, sou eu a entrar com metade da idade:)

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    1. também me assusto frequentemente, mas é com o espelho :D

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