ápice
O homem que usava o pó da terra como fato sentou-se no fundo granítico do tanque. A água era fresca, puxada das profundezas obscuras e mesmo que não lhe passasse dos ossos salientes dos tornozelos, era agradável ali estar, naquele pousio aquático.
Nunca o enchera. Calculara mentalmente a volumetria e apesar de não ser excessiva, o líquido era demasiado precioso para desbordos de Arquimedes. Não só para o homem que vestia pó de terra, mas para todas as criaturas que por ali pousavam.
Reparou nas vespas. Ao contrário dos outros insectos que se abasteciam nas águas estagnadas dos baldes ou canteiros, as vespas vinham em magotes beber no grande reservatório de pedra que era o tanque. Algumas acabavam ali os seus dias, talvez por falta de prática, maus cálculos. Retirou uma que se agitava aflita e colocou-a com gentileza na borda de pedra. Essa tinha tido sorte. Depois de se limpar minuciosamente, ganhou rapidamente velocidade e desapareceu de vista num ápice. Lá vinha entretanto outra. Sondava minuciosamente em torno da superfície um ancoradouro seguro. Era impossível saber se era a mesma que ainda agora aqui tinha estado, mas de todas as vezes pareciam procurar pontos de apoio diferentes, como um pedaço atapetado esverdeado de musgo e de cabeças voltadas para a água, bebiam dependuradas como os morcegos. Outra chegou e ainda aquela não tinha seguido caminho, mas esta escolhia uma estratégia completamente diferente. Também se colocava próximo da parede, mas com as longas patas de trás a tocarem na água, bem abertas, como os alfaiates que se deslocam pela superfície líquida. E num número perigoso de equilíbrio, sorvia a água que ficava entre ela e a parede.
Curioso! A abelha que eu salvei um dia, da água do tanque para onde corria a água onde eu iria lavar roupa; isto há mais de 50 anos e as máquinas de lavar roupa contar-se-iam pelos dedos de uma mão - em Portugal, claro, lá fora não sei. Pois como dizia, a abelha que recolhi na concha da minha mão e deitei para o sol, quando se secou, não voou para longe, como essa tua. Sem que eu me apercebesse fez um voo em arco e veio espetar-me o ferrão na parte interior do braço direito.
ResponderEliminarFoi a partir desse dia que soube ser alérgica à picada de abelhas. Tive de tomar antibióticos pela primeira vez na minha vida pois a infeção já se tinha alastrado, no dia seguinte. Uma coisa horrível, Manel.
E mais curioso ainda, foi que este episódio quase ter-se já evaporado da minha mente há décadas.
E pronto! Fiquei mais leve com este 'exorcismo' matinal. 😊
Beijos, Manel, muitos!
Essa abelha que te espetou nã te conhecia, só pode! Ou então fez confusão :D
Eliminaré engraçado, também fui picado em criança, junto à vista e a ideia que tenho é que tentei desculpar a abelha pelo incidente :D
beijos e abraços
Fui picada por uma vespa ou abelha, recentemente. Não consegui distinguir, mas deixou-me o ferrão espetado e prefiro pensar numa abelha que decidiu, poeticamente, vir suicidar-se no meu pulso do que numa vespa que saiu a voar, toda contente, enquanto o veneno se me infiltrava na pele...
ResponderEliminaré terrível! ultimamente nem sei o que me atinge, só sei que a primeira vez, quando os dias começam a aquecer, fico a anti-histamínicos e pomada com antibiótico... depois as coisas acalmam, como se o sistema repousasse... incomoda, mas ao mesmo tempo acho que deve ser benéfico :D agita o sistema
EliminarUm bocadinho de veneno não faz mal a ninguém. Desde que não sejas um monge que lambe os dedos para virar as páginas dos livros...
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