morte

 

Sentou-se no lugar vazio ao fundo, puxando com dificuldade da mochila cheia o livro que estava a meio. Ao fim do dia raramente lia. Havia pouca luz e os olhos reclamavam descanso, mas não aguentava ficar sem saber o que aí vinha. Até à página pouco antes de meio não tinha tido qualquer interesse. Era como se o escritor o tivesse, a ele e só a ele, posto à prova, dizendo com uma certa graça na voz, se chegaste até aqui, mereces o que quis verdadeiramente contar-te. E assim era, poucas páginas antes de meio a personagem principal dava o ar de sua graça e parecia até ao leitor que era outro aquele que escrevia. Se calhar foi aqui que começou, pensou, as primeiras palavras foram estas e depois acrescentou a metade que não lhe pertence, ou que foi escrita noutra vontade, noutra estação do ano, com novas dores, desilusões, o ar mais poluído, os rios mais contaminados. Sim, parece isso, pensou o leitor enquanto espremia o livro de novo para o interior da mochila cheia, agora mais de meio. 




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