morte
Sentou-se no lugar vazio ao fundo, puxando com dificuldade da
mochila cheia o livro que estava a meio. Ao fim do dia raramente lia. Havia
pouca luz e os olhos reclamavam descanso, mas não aguentava ficar sem saber o que
aí vinha. Até à página pouco antes de meio não tinha tido qualquer interesse.
Era como se o escritor o tivesse, a ele e só a ele, posto à prova, dizendo com
uma certa graça na voz, se chegaste até aqui, mereces o que quis verdadeiramente
contar-te. E assim era, poucas páginas antes de meio a personagem principal dava
o ar de sua graça e parecia até ao leitor que era outro aquele que escrevia. Se
calhar foi aqui que começou, pensou, as primeiras palavras foram estas e depois acrescentou a metade que não lhe pertence, ou que foi escrita noutra vontade, noutra estação do ano, com novas dores, desilusões, o ar mais poluído, os rios mais contaminados. Sim, parece isso, pensou o leitor enquanto espremia o livro de novo para o interior da mochila cheia, agora mais de meio.
Ler, às vezes é um exercício de resistência.
ResponderEliminarmas compensou bastante depois :)
EliminarPor vezes é difícil conseguir parar.
ResponderEliminarBoa noite Manel e boa semana :)
mesmo :) bom fim de semana
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