glacé

 

Talvez tenha feito esse exercício inútil de nos imaginar velhos e ainda juntos, mas na verdade nunca acreditei que acontecesse. Antes de assinar esse contrato com mais de sessenta convidados, já supunha que haveria um prazo de validade. Nunca lhe disse, como é óbvio. Assim como ela me omitiu muita coisa da sua vida, principalmente outras pessoas, eu também enterrei tudo o que em mim fosse desagradável. Até essa impressão de que aquilo que sentíamos não seria para sempre. É claro que o tempo acabou por erodir essas camadas de glacé com que tínhamos embelezado as nossas personalidades e coberto os mais negros segredos, trazendo tudo à superfície em menos de três anos.

Em retrospectiva, arrependo-me todos os dias de a ter conhecido. Também me arrependo de lhe ter sido infiel e de achar que finalmente podia ser quem era de verdade, sem segredos. Mas sem camadas, sem esse belo encobrimento, em menos tempo se fizeram sentir os efeitos da erosão, revelando o quão raso eram esses novos sentimentos.

Quem era este sujeito, pergunto-me muitas vezes.



Comentários

  1. De sete em sete anos és uma pessoa nova...

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    1. já ouvi essa teoria, mas achei que era só as papilas gustativas... mas na verdade, faz muito sentido

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  2. Somos esse composto de erros cometidos, bonito é entendê-los...e sobretudo, tentar não repetir.

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    1. muitos erros no meu caso :D mas é mesmo isso, tentar nã repetir

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