alfobres
Ilmatecuhtli, a criadora de galáxias, andou toda a manhã ocupada
na horta de rabo pro ar. Semeou pequenos alfobres de cebola e chalota, separando-os
cuidadosamente com um rego. Enquanto sacode a terra nas calças, observa com
satisfação os montículos estéreis perfeitamente desalinhados, onde em quinze
dias despontará uma frágil penugem esverdeada. Junta os dedos e as palmas das mãos
em frente da cara e inclinando ligeiramente a cabeça, executa uma pequena
prece.
Tlaloc, deus supremo do trovão e das tempestades, está
sentado na sanita a ler quando recebe a prece da deusa. Chuva moderada, stop, vertida
muito cuidadosamente, stop, de modo a não descobrir as sementes, stop. Volta a
ler a mensagem pelo menos mais duas vezes. Imagina a deusa usando um velho
chapéu de palha com uma fita de tecido florido já comido pelo sol. Está ajoelhada
na terra húmida, deitando as sementes nas suas camas de húmus e areia fina, como
quem aconchega os filhos para dormir.
Henri Matisse, Goldfish, 1912, oil on canvas, 146 x 97 cm (Pushkin Museum of Art, Moscow) |
Um texto muito poético apesar de apanhar o deus na sanita. Gosto dos trabalhos da terra. A propósito como sabe, quando se plantam os pés de cebolo, eles não podem ser plantados em grande profundidade. Para explicar isso meu pai costumava dizer que no plantar as raízes deviam ver o dono ir para casa. Bom, quando nós éramos crianças meu tio Luís que viera viver connosco para tomar conta de nós enquanto os pais iam trabalhar e quer também ele uma criança pois ainda ia a caminho dos 9 anos quando eu nasci, recebeu certo dia a incumbência de plantar meio cento de pés de cebolo, num bocado de terreno que meu pai amanhara no serão da noite anterior. Ouvindo a recomendação do meu pai, e levando-a à letra o meu tio enterrou no terreno a rama e deixou a cabecinha com as suas raízes ao sol.
ResponderEliminarAbraço, saúde e uma boa semana
ehehehehehehe, já ouvi umas histórias parecidas, se calhar por haver essa expressão das raízes à espreita :) mas também há quem acredite em tudo, até nas moelas de coelho...
Eliminarboa semana, abraço e saúde
Ahahahah Um deus sentado na sanita a ler, parece coisa tão comezinha que mais parece um terráquio. Ainda assim, faz lá a vontade à miúda.
ResponderEliminarBeijinho, afilhado mailindo
mas os deuses também precisam de sanitas... também há necessidades fisiológicas... nã é andar todo o dia a voar com uma capa a salvar velhinhas e gatos :)
Eliminarbeijos, madrinha
Os deuses têm privilégios que o comum dos mortais não sonha sequer possuir. Ao Tlaloc, até na mais íntima privacidade das suas necessidades, do mais básico e remoto que há, lhe chegam as mensagens telegráficas dos CTT ( correios, telégrafos e telefones, obviamente).
ResponderEliminarDescendo à terra, Manel... gostei muito desta tua bonita prenda de aniversário à deusa de todas as deusas. Espero que ela também goste. :)
Abraço.
a deusa fez anos? :|
EliminarA deusa que anda de rabo no ar a semear e plantar, lá na sua hortinha, e tu chamas Ilmatecuhtli, fez. A verdadeira, não sei... 😋
Eliminarmas como é possível? nã recebi nenhum convite... certamente há aqui algum equívoco...
Eliminar...não recebeste convite porque a festa foi para os amigos mais chegados e famelga. :))
EliminarRespondi à tua suposta dúvida, mas olha, foi nas asas do vento pousar algures. Vê se a descobres, se não, também não perdes nada. :)
Eliminaresta coisa está cada vez mais avariada...
EliminarO meu comentário foi de novo para o spam?
ResponderEliminarAbraço
o estranho é que quando a Elvira comenta sobre o spam, esse comentário não vai para o spam... eles andam a brincar com a gente
Eliminarabraço
Que bonito! Será que vai ter continuação para sabermos se a prece deu certo? ☺️
ResponderEliminaracho que sim, parece que sim, pelo menos choveu...
Eliminar:)
comoveste-me...
ResponderEliminarohhhhhh! nã será das cebolas?
Eliminarnão. as cebolas só cheiram mal...
Eliminaruma dica, se plantares o cebolo, cobre-o com palha que ajuda a manter a terra húmida e com menos crescimento de daninhas...
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