azáfama

 

As formigas atravessam o murete que circunda a igreja, indiferentes ao corpo que espera jazer uns quilómetros adiante. Numa azáfama, enchem todos os recantos dos subterrâneos antes que o verão chegue ao fim. Observo o vai e vem, assim que uma delas encontre algo apetecível, deixará um trilho químico que indica às outras o caminho a seguir. Os vivos vão chegando, uns interromperam as férias, outros alteraram os planos e viajam de longe para se despedirem. Estão ali, em união, a maioria já não se via faz muito tempo. Entre lágrimas e risos lembram os que já cá não estão e felicitam os que nascem sem darem por isso, porque isto é um ciclo sem fim. Depois o corpo que é só isso, deixa a igreja e a multidão acompanha a passo lento até à terra onde o depositam. É um local inóspito, irreal para quem venha de fora, coberto de mármore e flores que desmaiam sem cor das jarras. É tudo ainda mais estranho para as formigas, que por momentos param e observam o carreiro humano.


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