worm

 

Custa-me assistir a filmes em que se dão a imenso trabalho para retratar os trajes e a decoração de uma época remota, mas depois falam como se estivessem a vender erva numa esquina de Brooklyn. Bem sei que será difícil falar como nunca se ouviu ninguém a falar, mas pelo menos podiam aproximar ao que existe escrito.  As pessoas não iam entender, e a maior parte dos americanos não consegue ver um filme com legendas, mas a mim faz-me confusão que se use o inglês da américa ou da austrália num filme que se pretende fazer crer acontecer no século XI. O mesmo imagino que suceda na produção nacional, mas raramente vejo. Se o português era diferente há cem anos, imaginem no início da sua criação, quando os primeiros tugas começaram a tomar conta do sul da península. Já me questionei várias vezes se conseguiria chegar a entendimento com alguém se fizesse uma viagem no tempo até à famosa dinastia Afonsina.  Algumas palavras poderão ter sofrido poucas alterações, como vemos no exemplo da “água” que vem do latim “aqua”, mas se aplicarmos a mesma regra ao francês, já não podemos dizer que “eau” é parecido seja com o que for. Aliás, nunca peço água em francês! É inútil porque não me entendem, muito mais simples pedir uma bière (brune, belge), mas adiante. Começo depois a pensar como seria no início, muito mais para lá do tempo dos reinos, quando as primeiras palavras foram inventadas. Eu penso muito e em muitas coisas, acho que é uma das vantagens de ter um trabalho monótono e pouco intelectual. E depois de muito ruminar no assunto fui encontrar artigos em que tentam justificar quais serão as palavras mais antigas e que se mantiveram conservadas ao longo de por exemplo, quinze mil anos! Sim, quando os nossos antepassados estavam a viver na maravilhosa última glaciação. O que quer dizer que se fizesse uma viagem no tempo até essa altura, era possível ser compreendido, desde que usasse estas poucas palavras (vinte e três segundo eles) que se assumem conservadas.

Aqui estão elas:

Tu (thou – forma arcaica do you), eu (I), não (no), isso (that), nós (we), dar (to give), quem (who), isto (this), o que (what), homem/macho (man/male), vós (ye), velho (old), mãe (mother), ouvir (to listen), mão (hand), fogo (fire), puxar (to pull), preto (black), fluir (to flow), latir (bark), cinzas (ashes), cuspir (to spit) e “worm” que deve ser verme… e não minhoca, mas que realmente é parecido… Eu amei o spit!

Se conseguirem vejam/ouçam o link, dá para ter a noção de que realmente os sons são parecidos. Words that last - Graphic - The Washington Post

aqui o link para o artigo do PNAS- https://www.pnas.org/doi/full/10.1073/pnas.1218726110




Comentários

  1. As voltas que se dão para ter uma boa desculpa para beber cerveja... :)

    Mais a sério, no caso da ficção portuguesa bastava consultar um manual de português do 3° ciclo sobre evolução fonética e ver telejornais, documentários...de zonas rurais portuguesas dos anos 50, 60 para ser mais credível. Também há casos curiosos de mau casting em que se gabam de passar imenso tempo com as populações locais mas depois têm o sotaque mal amanhado da Rita Blanco no filme Fátima do João Canijo e chamam ténis às sapatilhas.
    A mim, mais do que o sotaque/pronuncia incomodam certos anacronismos. A RTP apresentou recentemente uma série de época q anunciou como histórica mas que nem para ficção dava. Para mim foi de humor porque era tão má que só conseguia rir - 'A Rainha e a Bastarda' ainda deve dar para ver na app RTP Play. A coroa do D Dinis, o facto de tratarem os Reis por Majestade séculos antes de isso ser uma realidade, inventarem descendentes ...muito, muito má.

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    1. desconfio que só penso em viagens pelo tempo para ter a oportunidade de provar as primeiras cervejas que remotam às primeiras civilizações... é curiosa a palavra cerveja... porque em quase todas as línguas se optou por chamar algo como birra ou bier, beer, pivo... e sim, sei dizer cerveja em pelo menos 7 línguas :D
      Pois, eu nã vejo muita produção nacional porque imagino que nã tenha melhorado desde os anos 90... ou se calhar piorou até :) voltei a rever o Zé Gato faz uns tempos e fiquei surpreendido com a qualidade. aquilo é o narcos tuga :D

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  2. Que maravilha de texto!

    E a pronúncia "alfacinha" a imitar um algarvio ou um alentejano? Estraga mesmo tudo!

    E eu que adoro séries ou filmes de época. Nunca me canso de ver "Dowtown Abbey".

    Viajar no tempo só até ao principio do século XIX. Eça de Queirós é um dos meus escritores favoritos.

    Mas, não será só por isso que a época me atrai. Tal como noutras coisas, não tenho explicação.

    Um abraço do Algarve,

    Sandra Martins

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    1. no dowtown são bastante cuidadosos, mas acho que isso faz toda a diferença :) gostava de viajar mais para o passado só que com algum conforto da actualidade, tipo papel higiénico, roupa interior confortável, gps :D internet
      abraços

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    2. Ah!Ah!Ah!

      Só esta logística merecia um texto. Ou uma série deles.

      Um abraço do Algarve,

      Sandra Martins

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