sacrifício
Se na era pré-colombiana os corações eram arrancados do
tórax dos homens para apaziguar os deuses, nos dias de hoje o fenómeno inverteu-se
e o deus das tempestades deixa que lhe arranquem o coração ainda
a pulsar e durante os meses sem chuva imiscui-se no meio dos homens na
tentativa de apaziguar a sua ira. Ele não é humano, mas a falta do músculo cardíaco
torna-o manso, delicado, diria até afectuoso e belo. Esta transformação teve no
passado consequências catastróficas, resultando em numerosos desvarios,
paixonetas e até assassinatos. Tlāloc despegava-se sem esforço do seu coração e entregava-se à volúpia de alma e coração, se o tivesse. Ser
amado não é um sacrifício, disse a grande serpente emplumada a espumar-se. De
agora em diante entregas o coração secretamente ao humano mais inacessível e deslumbrante que exista à face da terra. Esse é o teu sacrifício. E assim acontece quando o tempo da chuva
termina. O coração do deus da água do céu e do trovão é retirado numa cerimónia pouco festiva, habitualmente numa clinica privada e oferecido sem aviso prévio ao humano mais inacessível e deslumbrante. O deus transforma-se em algo ainda menos humano, débil e febril, vivendo os meses quentes obcecado e torturado pelo amor,
sem nunca ser amado.
Depois, passa o calor e o Deus da Chuva ainda aluado pelas paixonetas do estio esquece a chuva e condena os humanos à seca e a carestias...
ResponderEliminarpois e assim será, até que tudo volte a ser como de antes... :)
Eliminar