gémeos
O homem ligou a chaleira e colocou na mesa os frascos de
doces sem rótulos e as bolachas de água e sal. Lá fora o céu fechava-se em
silêncio, imperturbável, caindo das alturas sem ferir a terra. Na pouca luz que
sobejava, pegou no livro marcado pelo meio, recomeçando a leitura nas primeiras
linhas onde tinha ficado. A chegada quase coordenada dos jovens e o rarear da
luz, levaram o homem a abandonar o livro para se dedicar a observá-los. O
espírito não era uniforme, uns vinham animados pelo sucesso das suas
experiências, outros cabisbaixos, alguns revoltados ou
cansados, mas aos poucos o ambiente harmonizava-se, animando-se uns aos outros, enquanto
bebericavam chá quente e comiam bolachas barradas de doce. O que estás a ler? Perguntou
a rapariga dos olhos azuis como mares, esticando o pescoço para tentar ler o
título do lado oposto da mesa. Não é muito do meu agrado, disse o homem,
algumas partes impressionam-me. É sobre o quê? Insistiu a jovem. É um livro de
ficção científica, sobre uma experiência com gémeos… há aquela teoria dos
gémeos sentirem quando algo de mau acontece ao seu gémeo, ou morrerem logo após
a morte do irmão. Mas gémeos de signo? Troçou o rapaz com dentes de coelho. Neste
caso são gémeos verdadeiros com cerca de cinco anos de idade. Duas meninas. Disse
o homem, intercalando uma dentada na bolacha dura com um gole de chá morno. Que
tipo de experiência? Quis saber uma outra jovem. A ação do livro acontece num futuro
em que se encontrou um planeta habitável para além da Terra, só que esse
planeta distante é habitado por outros seres, supostamente mais primitivos e
vivem por enquanto em harmonia com a colónia de humanos. Nesta altura o homem
tinha a plateia toda atenta e quando fazia uma pausa, só se ouvia algumas
bolachas a fragmentarem com dificuldade. Mas como são seres primitivos, há o receio que se possam
insurgir contra a colónia e como estão tão distantes, não têm forma de serem
acudidos por uma frota terrestre. A ideia deles é colocarem uma das gémeas nesse
planeta e manter a outra na Terra. Só que como não têm a certeza se iria ou não
funcionar, estão a testar numa ilha, tentando medir o alcance da comunicação.
Testar coisas em crianças, isso é horrível! Observou o jovem dos dentes de
coelho. Não é a única parte horrível, também me impressionou a cena da morte da
raposa. Disse o homem, enchendo mais uma vez a chaleira. Conta! Pediu a
rapariga cujos olhos eram agora dois faróis acessos. Então tenho de vos falar
do personagem principal, um homem que está apaixonado por uma mulher.
Com a leitura deste teu texto, magnífico, Manel, cheguei à conclusão que o motivo principal do meu desinteresse por livros e filme de ficção científica, é não haver um guião ou narrativa à altura.
ResponderEliminarQual adolescente, igual a esses que ficaram presos às palavras do homem, também eu fiquei presa ao encanto das tuas. Não irei ( a propósito de ir, coloca, pf um 'i' ali na 'ira' pois era 'iria' que tu querias escrever) , como ia dizendo, não irei tecer mais elogios à forma tão cativante que tens de expressar os teus pensamentos. Tu sabes!
Pois...o mal todo é essa coisa de homens e mulheres estarem sujeitos à paixão...:)
Beijos, Manel.
Bom fim-de-semana, meu Amigo. :)
já corrigi, muito obrigado :)
Eliminarhá livros e filmes muito bem estruturados, de tal forma que nem te apercebes que se trata de ficção científica. mas eu sou suspeito, porque fico fascinado com o imaginário, o impossível e ao contrário do que muita gente julga, nã é nada fácil criar mundos :)
bom fim de semana caríssima
Ah, não vi o vídeo agora, virei vê-lo mais logo. Prometo!
ResponderEliminar'Um homem que está apaixonado por uma mulher' e a culpa é da serpente...sei! Não era preciso recuar tanto, ao Genesis...
ResponderEliminarehehehehhe, no fundo são tudo histórias da carochinha
EliminarMaravilhoso, tudo! Obrigada, Manel. Obrigada.
ResponderEliminarfico sem jeito :)
EliminarEu, ainda não perdi a esperança de um dia comprar um livro teu.
ResponderEliminarBeijocas, afilhado mailindo
madrinha, acho que vou ficar pelas árvores :D
Eliminarbeijos
Mas esta vai continuar...ou não?
ResponderEliminarO filme é muito bonito...mas aquele momento em que a raposa se solta e parece ir estatelar-se contra as rochas é doloroso...que ideia seria a dela?! Morrer? Ou simplesmente ser também um pássaro e voar?
~CC~
vou tentar continuar...
Eliminartambém fiquei suspenso, mas acho que era um acto de sacrifício