descarrilar

Mrs Mahler parece um comboio de alta velocidade prestes a descarrilar. O problema é que tentar parar um comboio prestes a descarrilar, seja um de alta ou normal velocidade, pode ser complicado e no decorrer, é bastante provável que haja feridos. Fiz o que não se faz. Quando acordei, estava a mais de um quilómetro do local do embate. Sacudi a poeira, procurei os óculos ou o que restava deles e enchi a cara de fita-adesiva, principalmente a boca para que não se voltasse a abrir. Mrs Mahler não deu por nada, porque ainda está a descarrilar e vai continuar durante uns tempos. Talvez seja da velocidade. Quando vamos assim tão depressa escapam-nos coisas, pormenores da paisagem, elementos estruturais, anos-luz. Atropelamos os átomos, palavras, intenções, em prol da emoção, da sensação de liberdade. Que estupidez achar que a parava. Que parvoíce decidir que os outros devem parar se eles próprios não o desejam. Quem me nomeou guarda de passagem de nível? Mrs Mahler está certa. E eu aprendi a fechar a boca e tem sido muito bom para perder aquele peso extra que ganhei na quarentena.