moinho

“um post por dia até ao fim do corona" dia 28... um post a pedido

Imagino que fosse maio, a roselha florida nos caminhos e os dias de tão esticados, raiavam pelo fim. Descemos em direcção ao rio num carreiro estreito, agreste, em partes subtraído pela força à própria rocha. Seguia na frente e oferecia-te a mão quando o lajedo levantava degraus de gigante. Como ali chegamos não me lembro. O caneiro tinha sido desmantelado muito antes e o moinho deixara de ser usado, embora se mantivesse na sua robustez habituada a submersões e à força da corrente. Éramos jovens, talvez demasiado jovens. Ficamos dentro de água sem saber o que fazer, os pés picados pelos peixes, os teus lábios roxos e o maxilar a tremer. Depois aproximaste a tua boca da minha, o som da água a cair do açude misturava-se com o bater acelerado do coração. Quase de certeza que era maio. Um céu vazio, as reentrâncias ocultas das rochas e o cheiro resinoso da aroeira, do alecrim, a murta, ligados eternamente ao sabor dos teus beijos e ao sentido da tua pele nos meus dedos. 

Comentários

  1. Lindo texto... sem nuvens, é certo,
    mas para quê nublar um sonho tão belo?

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  2. Que bom contraponto ao meu texto! :)
    Prefiro este, da inocêmcia, que bela viagem nos trazes.
    Uma pérola! (fazendo a ponte com as ostras.... ahahahahha)

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    1. ehehehehehe, muito bom, nem acredito que conseguiste ligá-los... bravo

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    2. É a minha vida.... fazer ligações... pagam-me para isso! ;)

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  3. A juventude está na cabeça, Manel.
    E nunca se é demasiado jovem, seja com que idade for. ;)

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    1. ia escrever estupidamente jovens, mas achei que nã era essa a melhor palavra :)

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    2. Olha que não era mal escolhida, não senhor. ;)

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  4. Esqueceste-te de referir a ponte que se avistava de cima do lajedo e ficava a seguir ao moinho!

    Lovely my dear... :) Só me dói essa solidão que trazes impregnada nos ossos.

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    1. ainda te lembras? essa foi a melhor parte...

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    2. Podes contá-la? Estou ansiosa por a ouvir nas tuas palavras...

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    3. já nã me sobejam palavras...

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  5. Se esse moinho falasse... :)
    Escreves tão bem, nunca devias parar.

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