escarlate

Sonhei que estava a viver em Londres, não perguntem porquê, e preparava-me para partir numa viagem de visita à terrinha. Mas estava preocupado em deixar algumas coisas em segurança e fui a um daqueles depósitos de bagagem para confiar uns quantos pertences bem guardados na minha ausência. Era um edifício moderno, metal fundido e vidro, com um átrio luminoso que desaguava numa larga escada em caracol que descia para a zona de atendimento. Assim que entrei, o grande volume que trazia debaixo do braço esquerdo, rolou com estrondo pelas escadas, assustando as poucas pessoas que lá se encontravam aquela hora do sonho. Uma funcionária correu para o meu embrulho que tinha perdido partes do papel pardo e via-se o seu interior em vermelho vivo.
-Isto é seu? perguntou a funcionária.
-Sim, sim! Desculpe se a assustei, era para deixar no depósito, não sei como isto me saiu das mãos. Disse, tentando colar com uma fita muito estreita os bocados de papel que tinham sido arrancados aquando da queda.
-Não me assustou, isto está sempre a acontecer, estas escadas têm um problema de magnetismo, já chamamos um técnico de escadas. Explicou a funcionária sempre com um sorriso sincero.
-Ora bem, temos aqui o que julgo ser uma bela porta vermelha para deixar no depósito, sim?
-Sim, sim! Respondi. -Por favor coloque uma daquelas etiquetas frágeis, para manusearem com cuidado.
-Sim, sim, não se preocupe, é raro deixarem aqui portas, mas teremos muito cuidado com a sua.
-É a minha porta de casa, sabe? arranjar outra seria uma trabalheira terrível.