vácuo

O velho e o jovem sentaram-se juntos no frio durante a pausa de dez minutos. O jovem acendera um cigarro e desabafava cabisbaixo, procurando nas botas gastas uma resposta. O velho escutava-o, seguindo ao mesmo tempo o voo ascendente dos pássaros. O jovem queixava-se que embora aquele caminho tivesse sido escolhido por si e preferido a muitos outros, não era feliz. Ele esperava palavras de consolo do velho, mas o que saiu da sua boca, além da espessa nuvem de ar quente, foi uma gargalhada sonora inquietante. “Meu padawan” disse o velho depois de se recompor, “a felicidade não se encontra nos sítios, nem nas coisas, nem mesmo na profissão ou no caminho que escolhemos. A felicidade tem de nascer do interior pela libertação daquilo que não interessa. É preciso criar espaço, esvaziar  de ilusões, frustrações, raiva e ciúme. Depois no vácuo ela ganha forma.” O jovem ficou a meditar em silêncio nas palavras do outro, seguindo também ele o voo dos pássaros. 
“Patos” disse o velho, levantando-se para retomar o trabalho com um sorriso que apanhava o rosto todo. “Como sabes que são patos e não corvos ou gaivotas?” Perguntou o jovem. “Porque voam como patos.” Respondeu o velho.







Comentários

  1. Concordo com esse velho, parece sábio.
    O jovem não devia fumar!

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    1. parece-me mais difícil convencer alguém a deixar de fumar, do que a criar espaço para a felicidade prosperar...

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  2. O segredo está no voo dos pássaros. :)

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  3. Muito sábias as palavras do velho, mas ao proferir a palavra Pato(s), cá para mim, referia-se ao jovem... :)

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  4. Para ser capaz de voar, certamente já deixou que a felicidade ocupasse o seu espaço.

    Beijocas, Manel das Tempestades

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    1. nã tenho a certeza, mas acho que é possível apenas com o vácuo... depois tudo é possível :)
      beijos Maria Tutu

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