jeitoso

A rapariga apressou o passo e ficou à minha frente na fila para o pão. No início não reparei muito nela, mais preocupado no pão que havia de escolher e que ia ser a confusão do costume, eu a gesticular e a apontar, a senhora do outro lado a falar chinês e a apalpar todos os pães até chegar ao que eu queria, já bem apalpado por ela. Depois percebi que a rapariga se tinha virado e me mirava de cima a baixo enquanto esperava. A minha camisola não combinava com as calças, as calças tinham terra nos joelhos, as botas eram de terra que tentei sacudir antes de entrar mas sem grande sucesso. O meu cabelo e a minha barba precisavam de um corte, todo eu precisava de um banho, mas mesmo assim sou interessante, pensei e por isso ela devia estar a olhar esgazeada para tanta beleza e charme num só gajo, prestes a lançar-se doidinha aos meus tornozelos. Mas depois puxou a carteira para si e achei que talvez estivesse era com receio de ser assaltada. Aguardei então que fosse atendida para poder retribuir a inspecção e olhar para ela com atenção. Era magra, achatada, o cabelo apanhado no topo da cabeça mudava de cor a meio. Toda ela fazia pandã, harmonizando calças com a carteira, sapatilhas com as pulseiras, brincos com as unhas, casaco com as meias Reparei por último numa tatuagem no braço esquerdo onde se podia ler  "Always". Ela comprou o pão mais simples e branco que lá havia, eu fiquei a pensar que tipo de tatuagem faria em mim, se elas não fossem para sempre.

daqui

Jeitoso! (mesmo que hoje cheire um pouco a couve)