Luna

Finalmente, na noite de dezassete, a lua cheia subiu pelo céu acima, um disco pleno e perfeito, volátil como éter. Voltei a armar-me de tsurugi e escalei lesto pelo escadote, atraído pela luz e pelo sucesso da minha empreitada. Tive sorte, podia ter sido pior. Assim que a alcancei, tudo ficou negro. Tudo não, havia um circulo de luz muito ténue e tremeluzente no interior da minha cabeça. Às apalpadelas, procurei o rebordo do astro onde cravei o gume da espada. Cravei uma, duas vezes, trezentas vezes, mas a lua não saía. Sacudi-a com as minhas garras de bicho papão, mas a lua nem mexia. Cego, enraivecido, conjurei uma maldição, foi quando o escadote saiu debaixo dos meus pés, e eu caí numa espiral de escuridão sem fim. A última coisa que me lembro, foi de ouvir Ilmatecuhtli cantar-me ao ouvido "Que no salga la luna, que no tiene pa' qué ". 

Chicomecoatl tem outra versão do que se passou nesta noite, muito mais plausível, em que um lisboeta engoliu a lua e eu vou enfrentá-lo num duelo para a resgatar. Andrade, és um homem morto!