lágrimas


Acontecem-me coisas muito estranhas e fico a pensar se é assim com toda a gente, ou se tenho  alguma exclusividade. Sinceramente preferia bilhetes para a ópera ou então um almoço grátis.
Ponto número um: assumo publicamente que choro com frequência. Tenho alguma vergonha, mas se não admitir que o faço, não consigo contar o que me aconteceu. Com frequência não quero dizer que choro mais do que uma vez por dia. Passo muitos dias sem chorar, às vezes fico meses. Mas porque não podem os homens chorar como as mulheres? Quem instituiu que só o sexo feminino tem direito a chorar? Fisiologicamente somos praticamente iguais, apêndice a mais ou a menos, não faz com que as lágrimas não se derramem da mesma forma. Ok, não choro quando desloco um dedo, talvez a resistência à dor seja diferente, mas se me derem um pontapé no apêndice, eu choro. Também choro quando ando depressa de bicicleta ou leio deitado. E consigo fingir, já o faço desde que nasci, e isso é ainda mais embaraçoso. Uma vez consegui ser atendido na segurança social durante a pausa de almoço da funcionária porque desatei num pranto e a senhora com pena deixou de almoçar para tratar do meu caso. Sim, minha senhora, era a fingir, não fique triste, mas eu precisava mesmo dessa declaração. Até choro a rir. Neste caso particular que pretendo contar estava a chorar de verdade. Assumida esta particularidade, vamos ao caso em concreto. 
A primeira vez achei que se tratava de coincidência. Acho que é o que a maioria das pessoas acha, se dois acontecimentos se cruzam inesperadamente, diz-se que é coincidência. Quando a mesma situação ocorre noutro dia, e estou a falar da mesma situação, ai já considero uma estranheza. Então o que me aconteceu foi que estava a chorar, porque comecei a pensar no quão miserável era a minha vida (uma boa merda e ultimamente está pior, mas que adianta chorar) e a minha mãe ligou-me. Ainda por cima a uma hora estranha, mas era como se algo lhe tivesse dito que era um bom momento. Ela só tinha um recado para me dar e a nossa conversa foi curta e claro que não lhe disse que me tinha apanhado num mau momento. Da segunda vez, estava a chorar por causa de uma cena triste num filme, em que o filho ficava junto do pai até este morrer e quando penso em perder os meus pais fico sentimental. Mas adiante, lá volta a minha mãe a ligar. Até fiquei parvo a olhar para o telemóvel. Uma pessoa agora já não pode chorar? Lá atendi, tentei manter a minha voz normal e ela diz do outro lado: Liguei-te? Ai filho, foi por engano.



Comentários

  1. ahahahahah também me acontece, esta coisa das tecnologias e da marcação automática para o último número ligado.
    Quanto ao homem poder chorar, eu cá não faço questão de ter os direitos registados. Chora, afilhado, que quanto mais não seja, menos xixi fazes.

    Beijoquinhas tantas da madrinha

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    1. Então é isso... já estava a cismar, ok, menos xixi, vou ter isso em consideração :)
      beijos madrinha

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  2. Há uma música do Samuel Úria que, entre muitas coisas bonitas, diz " ...um homem só não chora porque não consegue.."..ah e as mães sentem coisas e ligam quando as sentem. É mesmo assim! Maravilhoso não é
    ? Ah.. já agora, aposto que choraste no Titanic (brincadeirinha)!!! Ahahaha 😂😂

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    1. adormeci no titanic... acho que é do balanço do barco, é muito relaxante :)

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  3. Começando pelo princípio, que é por onde tudo deve começar, digo-te que não recuses os bilhetes para a Ópera, mas fica ciente de isso do almoço grátis não existe.
    Um almoço nunca é de graça...E eu que o diga. Li o livro «Um Almoço Nunca é de Graça» de David Lodge , uma valente seca. ..Vá lá que o não comprei, foi-me emprestado.
    Quanto ao choro, adoro ver um homem chorar...dá-me vontade de o aconchegar no meu colo e limpar-lhe as lágrimas com carinho, mas isso só acontece com moços ciganos...ehehehehe

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    1. O Lodge é um bocado seca, já tentei uma vez e desisti... mas deve haver quem lhe ache piada ou então pode haver pessoas que gostem de ler seca... é outra possibilidade :)

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  4. É pá, Manel... há ali uma parte que me deixou de sobrancelha sobressaltada. A resistência à dor é diferente de pessoa para pessoa. Não de homem para mulher. Nem vice versa. Ponto.
    A tua sorte é eu não ser uma dessas feministas-da-moda. Caso contrário, faria bem mais alarido por aqui do que, humildemente, te chamar à razão.

    De resto, o choro é igual à dor. Varia de pessoa para pessoa. Só.

    :)

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    1. eu escrevi "talvez a resistência à dor seja diferente"... talvez... eu salvaguardei com o talvez...

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