Langerhan

Faltava-lhe o contacto humano e não sendo uma máquina, parecia que os sentimentos estavam adormecidos, como quando nos sentamos em cima de um membro e ao fim de algum tempo deixa de nos pertencer. Nada lhe pertencia e em resumo, ele não pertencia a nada. Não pertencia a uma seita, a um partido politico, a uma religião, nem sequer pertencia a uma associação ou comunidade. Pelo andar da carruagem, em breve nem à humanidade pertenceria, se é que alguma vez tivesse feito parte dela. Tanta pele e ninguém a quem tocar. Queratinócitos, ninhos de melanócitos e células de Langerhans gigantes e com prolongamentos membranares. Devia ter nascido máquina. Pensava, enquanto observava com minúcia as fendas dos nós dos dedos. As máquinas nunca estão tristes. 

 Charles Kazilek/Gene ValentineHandmade paper from Artichoke Thistle (Cynara cardunculus)

Comentários

  1. Andas a dizer umas coisas esquisitas. Econtraste algum livro de medicina abandonado no metro? Foi? Não devias ter ficado com ele...
    Devias doar esse livro à ciência e aparecer mais vezes.
    Bom dia!

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    1. mas nada mais ocorre dizer... é como se tivesse esgotado todos os assuntos.
      bom dia. sabes dizer-me onde encontrar assuntos?

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    2. conta-me a tua memória mais antiga. eu conto-te a tua no meu blog, depois. Quero saber qual é a memória mais antiga de cada pessoa que se cruza comigo, podes colaborar. Eu peço, por favor.

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    3. combinado :) mas sem certeza que seja realmente a mais antiga... nem precisão de quantos anos teria.

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    4. *conto-te a minha no meu blog.
      Obviamente.
      só agora vi que estava a combinar a coisa mal... comento a tua e conto a minha.

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  2. Quantas vezes não nos sentimos assim, obrigada por o descrever tão bem. Já tive esses buraquinhos de desligar na minha vida e por isso os reconheço. Mas há sempre um caminho para nos conectarmos. Vai daqui um abraço com pele.
    ~CC~

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    1. é como se o trilho tivesse sido marcado com migalhas e durante a madrugada os pardais o devorassem... obrigado pelo abraço, faz toda a diferença quando nã há pontos cardeais.

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  3. Sr Manel, anda a sonhar com a minha vida e a escreve-la!!! :))
    Eu deixo, até porque me esforço para me integrar. :)
    Um abraço, sr Manel!

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    1. Senhora Dona Flor, se calhar ando :)
      mas o que sinto é que me esforço pela distância que quero maior a todos.
      um abraço Senhora Dona Flor.

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    2. Sr Manel, eu já sabia que o sr Manel é um dramaturgo, furioso. Pensei ... que era só uns sonhos seus, não a sua realidade, de certa forma.
      Que se faça Luz nos seus circuitos cerebrais. :) " O passado É passado, ponto."
      Olhar o presente, e a vida com entusiasmo e ver o que ela oferece.
      Eu estou num renascimento em pleno meio seculo de vida. Não é nada fácil, mas, ninguém disse que a vida é fácil, só não a vamos complicar, porque a vida de um todo, é difícil sim.
      Um abraço sr Manel, deixei de saber o que é carência, a minha travessia no deserto é pra lá de quinhentos e dezoito dias ... mas é a vida. :)

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    3. gostei muito dessa parte: "que se faça Luz nos seus circuitos cerebrais." É isso que faz falta, iluminação :)

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    4. :)))
      Eu, continuo em curto circuito de vez enquando!! :)) mas a tendência é para serenar.
      Apetece me "dizer-lhe" só assim:
      Crie a realidade que quer para si através da escrita ... Mas "bote" fé na "coisa".
      Que se acendam as suas luzes todas cerebrais :) e já mais, as deixe apagar. É só uma questão de manutenção. :))

      Um beijinho :)

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  4. Olha, Manel; máquina não poderias nascer nem nunca poderás ser.
    És demasiado sensível e terno. Há tanta humanidade em ti, que mesmo quando queres disfarçar, sentimos que dentro do teu peito bate um coração sedento de dar e receber amor.
    Também digo: tanta pele (a perder o viço) e nada de mãos que a cariciem...:))
    Porca miséria de vida esta...

    Beijos, Manel.
    ( queres rir um bocadinho, para espairecer? Vai lá ao meu canto. )

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    1. porca miséria :) mesmo... e por falar em porcos, lembras-me aquela história que um engenheiro lisboeta que se deparou com um compadre que segurando um porco acima da cabeça, andava de azinheira em azinheira, a levar o porco de bolota em bolota.
      O engenheiro foi ter com o compadre e disse:
      — Amigo, tive uma ideia que talvez lhe interesse: porque não sacode as bolotas da árvore? Depois punha o porco no chão e com isso poupava imenso tempo...
      O homem parou, tirou o porco de cima da cabeça, reflectiu durante uns momentos, voltou a por novamente o porco à cabeça e respondeu com um encolher de ombros:
      — Que é o tempo para um porco?...

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    2. Caraças...esta vai ser a terceira vez que respondo e o comment desaparece...queres ver que aqui não gostam de porcos nem de bolotas?

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    3. Ah bom...assim já posso dizer que ainda há quem diga que os alentejanos são preguiçosos. Este até carregava à cabeça com o dele para comer as 'boletas'...:)

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    4. como é que nã? todo o mundo gosta de porcos... coisa mai linda!
      desculpa as piadas com pouca piada, mas ultimamente o meu sentido de humor nã contribui para o bem estar geral. Bom fim de semana, beijocas

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    5. Não, Manel! Tu estás com tudo em cima... até o sentido de humor. :)
      Eu é que já estava sem grande vontade de me rir por causa dos comentários que me fugiam todos....nada a ver contigo, não!
      Na próxima sexta aparece novamente para te divertires com uma poesia na Língua de Cervantes...:))

      Beijocas e inté, Cigano! :)

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  5. Estás a precisar de contar estrelas

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  6. a seres máquina, que sejas de escrever.
    gosto tanto de te ler, Mau-Tempo :)

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    1. oh isso seria perfeito... engolir folhas brancas, andar com a cabeça de um lado para o outro, mastigar a fita nos dias de mau humor :) mas feliz por sentir uns deditos a empurrar as teclas...

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  7. Nada de tristezas Manel! Pois se até está mau-tempo e tudo. Ainda agora choveu. É chato, mas se ficares mais alegre com isso, não te acanhes e manda trovões e relâmpagos também. :)

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    1. ia referir isso, que nem estas temperaturas negativas e o céu coberto me dão animo, mas nã queria ferir susceptibilidades... em breve mando algum sol, prometo.

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