Reine
Romeu tem mais de noventa anos e acorda no lar, numa cama de solteiro morna. As pernas já não acompanham a velocidade do pensamento, por isso levanta-se cedo para ganhar tempo. Desce para as refeições com uma antecedência pontual, sobressaindo dos restantes pelo seu blusão claro de meia-estação. Um dia quando as pernas nos falharem vamos entender o verdadeiro significado de "obstáculo", ou "encarceramento". Mas Romeu é uma raposa velha, a mente é aguçada e engenhosa. Mesmo com quase cem anos, adapta-se às circunstâncias, aos tempos. Sabe usar as palavras certas, mantêm o espírito elevado.
Julieta dorme noutro quarto, também tem mais de noventa anos, mas é como se tivesse apagado dez velas a semana passada. Ela chegou primeiro, porque Romeu já não conseguia cuidar dela. Julieta não reconhece Romeu, nem como marido, nem como pai dos seus filhos. Para ela, ele é mais um pretendente que compra a sua atenção na hora do chá, oferecendo-lhe palitos la reine. Ele fala disto comovido, para que o neto não se esqueça dos doces na próxima visita.
caramba...
ResponderEliminarfalta de água :)
Eliminare assim terminam as histórias do foram felizes para sempre :)
ResponderEliminar(narrativa bela)
são estas histórias que ainda me dão alento...
EliminarQue bonito.
ResponderEliminarobrigado :)
EliminarPor motivos profissionais visito lares muitas vezes- E é mesmo assim como diz, há casos assim.
ResponderEliminar~CC~
é um "Romeu" e uma "Julieta" de verdade, carne e osso... só me limitei a narrar :)
EliminarNão quero, nunca, ser Julieta, não quero e não quero - será que sou ouvida?
ResponderEliminarBoa Páscoa afilhado mailindo
se um dia fores, nem dás conta disso... boa Páscoa, madrinha! o que importa é o hoje...
EliminarClaro que darei, não se acorda assim, é gradual até restar nada. No entretanto,
Eliminarde alguma coisa se há-de dar conta. Mas isso não é para mim, eu vou morrer de repente, ou acordar morta, por aí :-)
também gostava de acordar morto :)
EliminarInspiraste-te no "Diário da Nossa Paixão", de Nicholas Sparks, Manel?
ResponderEliminarA tua narrativa, desse infinito amor, é linda...
Páscoa Feliz, Cigano!
Ahh... e a imagem é fabulosamente envolvente e elucidativa!!
Eliminarporra.
Eliminar:)
Janita, é uma história real, sem inspiração no Nicolas :) mas imagino que seja o estilo dele...
EliminarAlex, porra mesmo!
Boa Páscoa, beijocas às duas
Agora é que reparei que a porra da Alexandra era resposta para mim...Porra!!
EliminarNão é que seja o estilo do Nicholas, Manel, esse livro que mencionei e até foi adaptado ao cinema, conta uma história igual à tua. Portanto, também pode ter sido inspirada num acontecimento verdadeiro.
nã sei se era para ti ou se ficou no sítio errado :)
Eliminarnã me importava de vender a quantidade de livros que o Nicolas vende :) acho que já vi o filme, ou então falaram-me dele e sim, a história é parecida. E sim, pode ter sido inspirado em algo verdadeiro, deve acontecer muito... infelizmente
a "minha julieta" já perdeu o seu "romeu" há meio século. continuou a percorrer caminho, até que o caminho que ali sempre tinha estado, e se lhe estendia inteiro para ser percorrido, ora depressa ("julieta" tinha boa perna para a caminhada), ora devagar, se lhe dava para o devaneio (as flores dos jardins), veio um dia, em que esse caminho tantas vezes percorrido, nem sempre lhe parecia o mesmo. e todos caminhos começaram a ser iguais, confusos, menos bons. por fim, o caminho deixou de se fazer, esperando apenas o último, que, nalgumas vezes, em palavras ditas ainda alguma lucidez, tarda a chegar. boa páscoa , Manel (em jeito de confissão, este comentário é baseado numa história verídica).
ResponderEliminaré isso mesmo, parece uma espera numa dimensão distante, o corpo está funcional e saudável, mas a cabeça perdida... Achava que as pessoas eram felizes por nã se lembrar de nada, mas elas acabam por constituir um perigo, ou porque se perdem, ou incendeiam o fogão... mas penso que esta Julieta é que dá esperança e força de viver a este Romeu.
EliminarBoa Páscoa, Mia (obrigado pela tua partilha e coragem, a história que contei nã é minha, nã é a minha Julieta, nem o meu Romeu, mas fiquei tão comovido que achei algum alento, uma réstia de humanidade...)
sem desprimor para tudo aquilo que já aqui li de grande qualidade, hoje, senti-me aqui acolhida, e entrelaçada de ternura entre estes parágrafos, pois todas estas frases me recordam aquele olhar que tudo dizia, e que já me fugiu há algum tempo. faz-me tanta falta. e agora vou. já me calo, que se faz tarde.
Eliminaro que recordamos dos que já cá nã estão, é uma forma de estarem :) digo eu...
EliminarMuito triste, Manel. E nem é preciso ter 90 anos...quando essa doença ataca, seja Alzheimer ou outro género de demência, dói. Tive até há bem pouco tempo um caso desses na minha família...em que a mãe - minha tia - deixou de reconhecer toda a restante família, nem os mais próximos - filha e marido - reconhecia!
ResponderEliminarBoa Páscoa, Mau-Tempo.
é triste sim, porque de certa forma aquela pessoa deixa de ser a esposa, a mãe, a tia, a avó... é perder a pessoa na sua essência, o seu espírito... muito triste
Eliminarboa páscoa, Té, um pouco fora de horas
Aposto que todos os dias se apaixonam e que todos os dias se apaixonam como se fosse por uma nova pessoa.
ResponderEliminarquero acreditar que sim :)
Eliminaré a tal esperança...
na noite de lua nova faça o pedido do que quer à lua, mantenha o pensamento nisso enquanto a lua estiver a crescer, tome iniciativas nesse sentido, e relaxe. não se esqueça da fórmula - intenção, acção e relaxamento.
ResponderEliminaré a pedido da ana que deixo aqui este conselho.
fico muito grato às duas :) mas já decidi que nã quero nada
Eliminarolha, meu filho, é a escolha acertada.
EliminarCarago...tanto trabalho pra nada! ehehehehe
EliminarDesculpem, Manel e Ana, vim espreitar a ver se havia novidades e não resisti.
:)