hearts

... ou o outro lado de Diamond rings and chevrolets

Quando ela caiu na sala grande com os cabelos em desalinho e um pedaço de cogumelo na mão, estava concentrado a mergulhar uma colher no leite, tentando separar a fina camada de nata que se formara à superfície. Perguntei ao Arganaz que dormia com a cabeça na mesa quem era aquela, mas ele limitou-se a responder que eram exactamente seis; hora do chá. 

-Qual chá, qual quê! Ela tem todo o ar de quem aprecia um beijo de sapo! 

-Mas eu não sou um sapo, já te disse um milhão de vezes, sou um Arganaz. 

- Idiota! beijo de sapo é um shot: Uma dose de rum para duas de licor de kiwi e meio limão… 

-Não faço ideia do que falas, mas já lá estão os gémeos gordos e a placa do gato. Não tarda chega a quadrilha de lagostas e as pescadinhas de rabo na boca. Este tango dá-me sono…

Levantei-me num pulo, arrastando uma nuvem de neutrinos que atravessou a sala sem interagir com a matéria. Mas esqueci-me que a quina e a bisca de paus estavam de guarda e fui atirado de novo para a cadeira de braços em forma de hastes de veado. 

-Onde pensas que vais? Berrou a rainha de copas com a boca cheia de tarte. 

-Com licença de Vossa Majestade, pensei preparar-lhe uma bebida... para acompanhar a tarte. Menti, sem tirar os olhos da mulher de cabelos em desalinho que rodopiava nos braços da sombra do chapeleiro, ao som de “Por una cabeza”… um tango muito apropriado. 

-Não é bebida que me faz falta, disse a rainha levantando-se do trono, vermelha como um tomate. -Sinto falta de qualquer coisa… suspirou, aproximando a sua verrucosa carantonha 

-Come-me, cigano! Ordenou a rainha, já com as copas em cima de mim. 

-Nem morto! Ripostei, empurrando a rainha e fazendo cair todo o baralho, naipe por naipe.

- Corteeeem-lhe a cabeça! 

Plagiado d' Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll e Diamond rings and chevrolets da Capitã Cuca.