desistir
Finto a página em branco. Escrevo que a noite já caiu e
depois apago. Não consigo descrever a cor daquela hora. Precisava de uma noite amena propícia a enredos simples, mas nem
a noite está amena, nem os enredos são simples. Repito a mesma música até as
notas saírem pelos poros, na esperança que elas expulsem palavras alojadas
entre as camadas. Fecho os olhos e imagino-a deitada num sonho. Toda a repetição é
como uma oração. Volto ao início e tento acalmar a violência dos punhos lutando contra o ar, cansando
a raiva, atirando contra o tapete a frustração, mas nem assim as palavras
pousam nos ombros e ditam ao ouvido o que vem a seguir. Se desistir, pouco me resta.
Mas, nem penses nisso!!!
ResponderEliminarDou-te tamanha tareia, que nem te chego a tocar.
Todos os que escrevem, dizem o mesmo - estou num período seco, a inspiração não aparece - porque serias tu diferente?
Acalma-te, e espera pelo sol, logo as palavras chegam a saltitar vestidas de cores garridas.
Os sonhos, leves e ternurentos, também estão à espera que o tempo aqueça.
Beijocas afilhado mailindo quinté
:-))
nã posso considerar isto escrita, é apenas um passatempo, um jogo de palavras :) uma tentativa de divertimento... mas gosto, pra lá de tanto e fico aborrecido quando nã consigo.
Eliminarbeijos super-madrinha
“Archaic Torso of Apollo”
ResponderEliminarby Rainer Maria Rilke
translated by Stephen Mitchell
We cannot know his legendary head
with eyes like ripening fruit. And yet his torso
is still suffused with brilliance from inside,
like a lamp, in which his gaze, now turned to low,
gleams in all its power. Otherwise
the curved breast could not dazzle you so, nor could
a smile run through the placid hips and thighs
to that dark center where procreation flared.
Otherwise this stone would seem defaced
beneath the translucent cascade of the shoulders
and would not glisten like a wild beast’s fur:
would not, from all the borders of itself,
burst like a star: for here there is no place
that does not see you. You must change your life.
isso sim, é escrever... dar vida a pedras que em tempos também pareceram conter vida...
EliminarPaul Auster, conta que esteve mais de um ano sem conseguir escrever um parágrafo, uma frase sequer. Um dia acordou e, como por milagre, as ideias surgiram em catadupa.
ResponderEliminarForçar a mente a inventar palavras sem as sentir é horrível.
Tem calma, relaxa, não te deixes ir abaixo, ok?
Se hoje fintaste a página em branco, já foi escrever, não foi.? E adorei, muito.
Um abraço, Manel.
nã iria tão longe, isto nã é escrever... são somente recortes, jogos de palavras, tentativas de divertir o espectador... por isso nã havia de ter momentos destes. nã gosto disto. parece que o mundo parou nestes últimos dias, nem sei o que fiz do tempo...
Eliminarabraço Janita
não desistas, vai pelo que diz a dona fernanda. tivesse eu dado ouvidos...
ResponderEliminartenho um mau pressentimento...
Eliminarvai dar uma corrida à volta do quarteirão...
Eliminarfiz o que disseste, mas nã apanhei a coragem, nem nas curvas por dentro...
EliminarManel, entendo que devemos fazer o que nos faz sentido, o que nos faz sentir bem. Já basta o que fazemos por obrigação e que não contribui para o nosso bem-estar.
ResponderEliminar:) faz sentido, mas nem sempre a regra se aplicará... há situações em que se desafia a má sensação, troca-se o bem-estar por um mal-estar momentâneo que pode resultar num melhor estar, mas sem garantias que resulte... mania de nunca estar satisfeito.
EliminarPõe tudo o que és na mais pequena coisa que faças*. Um polvo não desiste assim...
ResponderEliminarBom dia, Manel. :)
*Fernando Pessoa
Tu e o Fernando têm razão :) Bom dia Té.
EliminarEu aldrabei um bocado, Manel :)
Eliminar'Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.'
Fernando Pessoa
Quanto ao polvo não retiro sequer um ponto :)
gosto muito do Fernando :)
Eliminargosto do Fernando e de ler o Mau-Tempo também.
Eliminar(juro que não vou comentar mais este post. agora, lá em cima...)
secura de tudo, não? próximo de algum deserto que teima em não mostrar oásis? dá vontade de desisti, dá, sim. a luta para o evitar é, ás vezes, cruenta. quando se ganha, é um bem estar merecido.
ResponderEliminarabraço, Manel. boa semana.
só imagino o oásis... é mesmo isso, dou por mim a imaginar o oásis, a sonhar com o oásis, sem me aperceber que vou morrendo à sede no deserto...
Eliminarbeijo Mia, boa semana
Elas pousarão, M-MT, não tenho qualquer dúvida disso.
ResponderEliminarvou encher os ombros com cola, a ver se quando pousarem, nã se libertam :)
Eliminareu tb sinto isso, mas relativamente ao desenho, não ás palavras. ás vezes é difícil enfrentar a "folha Branca". mas depois de passar essa fase é maravilhoso...depois volta...mas com muita insistência no trabalho árduo, a coisa passa,
ResponderEliminaranonima
a sensação é de ter perdido uma parte... nã sei se volta a crescer
EliminarAfinal a página não ficou em branco e há por aqui muitas palavras suspensas. Calma. Deixa-as pousar
ResponderEliminarachas que montar umas armadilhas resolve a coisa?
EliminarPersistência ;)
ResponderEliminarÀs vezes, precisamos de muitas tentativas. O importante é não desistir.
Beijo!
tudo são tentativas :) isso é certo
Eliminarbeijo Helena
anda, dá-me a mão, vamos ali ver o campo de flores amarelas, e talvez logo me possas ler a história que escreveste entre as pausas do vento. :)
ResponderEliminarde ti, as palavras nunca vão embora, apenas viajam debaixo da pele, menino inverno. :)
é sempre difícil ver partir o inverno, mesmo que seja um assombro de beleza a tua chegada :)
EliminarE no entanto, arrancaste-lhes esta maravilha.
ResponderEliminarmaravilha? aposto o que quiseres que fazes melhor com menos...
EliminarMaravilha, sim. Concordo.
Eliminar:-)
Não desistas Manel!
ResponderEliminaro que me vale é ser teimoso :)
EliminarSe desistires pouco resta a muitos do que aqui passam. Que a minha vontade de desistir de certas coisas da minha vida me trouxesse uma consequência análoga à tua falta de inspiração. Escreves tão bem, caraças!
ResponderEliminartu és uma querida, mas exageras bué! :)
Eliminarobrigado
É a chamada síndrome da folha branca.
ResponderEliminarA angústia, a frustação, a raiva, são as maiores inimigas da criatividade.
Talvez o melhor seja tentar seguir Lobo Antunes que afirma: "Não tenho medo nenhum da folha em branco. Nunca me angustiou que ela, eventualmente, tivesse de permanecer nesse estado."
E apesar de tudo, muito bonito o teu texto!
Bem inspirado estavas para usar a falta de inspiração como inspiração tão bem inspirada…
Desculpa voltar, mas esqueci-me de te dizer que sei que nunca irás desistir.
ResponderEliminarFica um sorriso...
:) sei mais de folhas brancas que permaneceram nesse estado do que ele, tenho a certeza!
Eliminarbeijos Misty e obrigado