Dulcineia
Todos os dias tenho perdido o autocarro da manhã. Independentemente da hora a que saio de casa, o autocarro passa por mim a todo o gás e fico a vê-lo ir, sem hipóteses de correr para o tentar apanhar. Já nem sei porquê que fiquei surpreendido, foi assim durante toda a semana, hoje sucedeu o mesmo. A consequência desta perda é que tenho de esperar pelo próximo, e não sou muito de esperar. Depois também acontece que chego tarde e abro a loja depois da hora, mas também não há clientes à espera desejosos de entrar, e os que por vezes aparecem, é por engano. Fico então toda a manhã a olhar para o aquário de nuvens, vendo-as flutuarem umas contra as outras numa atmosfera de azoto, enquanto bebo cinco ou seis chávenas de chá. Quando alguma coalha e fica espalmada contra a superfície, vou lá com o coador do leite e pesco-a. Depois do almoço costumo descer à cave e ligo o gerador de baixas pressões. Gosto de manter o stock cheio para alguma eventualidade. Em seguida verifico a carga das trovoadas das últimas prateleiras, agito os tornados e tufões, meço os níveis plúvios, confirmo os boletins meteorológicos e noticiários, ou acerto as comissões com a indústria de guarda-chuvas. A tarde passa num correr. Mas hoje não fiz nada disto, deixei-me ficar todo o dia a olhar para as nuvens, a bebericar chávenas de chá que gradualmente iam perdendo o sabor. Sinto-me cansado. Mas toda a gente diz que é normal, foi do trabalho, que realmente a tempestade é de categoria. Há quem pense que carrego num botão e sai da máquina uma ventania já empacotada, pronta a enviar. Mas não é assim, e quando são ventos ciclónicos, é de suar as estopinhas. Mas fiz tudo com muito gosto, esperando que seja do seu agrado, que lhe levante o animo e lhe arranque todo o mal para longe. Porque já lhe sinto a falta do sorriso e ela ainda aqui está. Mas também porque não quero que outros façam o mesmo. Quero que se sintam avisados. Tentem-me, e mando cair o céu.
Prairie Rain Storm, by Min Ma |
Dulcineia foi o nome que criei originalmente para a tempestade em questão, mas alguns entendidos acharam que Doris ficava mais no ouvido... divindade aquática... coisas de marketing.
Tens trabalhado muito Manel... A nossa costa que o diga.
ResponderEliminarPorque não descansas um pouco e deixas a Prima Vera fazer um pouquinho de concorrência. Não queiras o negócio só para ti, vá...
:)
este mês ainda é meu... posso fazer com ele o que bem entender :)
Eliminartens feito umas belíssimas enxurradas e a chuva cai na direção certa, meticulosamente direcionada por ti, Manel. mas eu preferia que dedicasses mais tempo à escrita. a vida não é só trabalhar, Mau-Tempo :b
ResponderEliminarolha quem fala... a abandonante de aranhas órfãs... já se diz por ai que quem abandona aranhas, é capaz de tudo! Abandona-me e vais ver se nã faço um dilúvio... depois bato com os pés no chão, e um chinfrim, e uma manif... isto anda a precisar de manifs...
Eliminar:) gosto de ti, caso nã saibas)
tu tens é um coração de sol, rapaz :)
Eliminare fica o menino a saber que Milu não tem dono/a, é uma solitária que partilha tecto comigo. isso de abandonar, sequestrar (ó Cucaaaaa!) é coisa para gente com tiques de bandidos...
ehehehehehe, tenho esses tiques... dou por mim sempre que entro num banco, a procurar pelas câmaras de vigilância...
EliminarO mês de Fevereiro é o meu e apesar de pertencer ao Inverno não arrogo os meus direitos sobre ele. Peço antes delicadamente que me deixes ver o sol, preciso tanto de luz. Em troca ofereço-te um despertador.
ResponderEliminarcolocas-me numa situação complicada... segunda dou uma folga às nuvens, só porque me pedes com delicadeza :)
EliminarAqui, da minha cabana distante, abrigada do dilúvio, bebo um chá quentinho e sorrio. O que encontramos uns nos outros, enquanto o céu desaba sobre o mundo, é sempre a promessa de uma nova primavera. E isso, faz-nos, de certa forma, ser hóspedes das nuvens :)
ResponderEliminarMuito obrigada, Manel.
Um abraço apertado
o seu sorriso dá-me alento para continuar, mas prometo que vou ser mais moderado nas tempestades :)
Eliminareu é que agradeço, Miss Smile, um abraço sincero.
Olá, Manel!
ResponderEliminarParece-me que vieste até aqui visitar-me. Este som da chuva e do vento é música para os meus ouvidos...Lol
Podes mandar ventos ciclónicos, granizo, tufões, se quiseres; arranjei uma couraça que me defende das intempéries...Chama-se sonho!...:)
Um beijo.
Já me esquecia.
EliminarGosto do nome 'Dulcineia',.
Pois não foi ela a amada, daquele que viveu lutando contra moinhos de vento?
*-*
Finalmente alguém que me compreende :) É ou nã é o nome perfeito para uma tempestade?
Eliminarbeijos querida Janita, já mandei tudo o que tinha em mente, de agora em diante é só mesmo o inverno :)
Eu até consigo que os autocarros passem com um ligeiro atraso para não os perder...desde que pare de enviar as tempestades, mesmo que com um bonito nome. Ou pelo menos umas tempestades mais africanas, dessas que trazem chuva e sol no mesmo dia.
ResponderEliminar~CC~
é possível que se consiga aqui um entendimento... a partir de segunda conto que cumpra a sua parte, eu tratarei da minha :)
Eliminarvoltaste, cigano duma figa...o que faço aos pesadelos e às horas não dormidas?
ResponderEliminarehehehehehee, mete tudo numa caixa e manda cá para cima que eu trato deles...
EliminarÓ afilhado, por favor, tem cautela com os ventos, é que ainda hoje, manhã cedo, quando menos esperava levei com a saia nas trombas. Ora saia é para andar voltada para baixo, não para cima - maneira a coisa afilhado.
ResponderEliminarBeijinho da madrinha
Gostei do nome Dulcineia :_))
mas... mas... mas... isso nã pode ser... vou já apanhar o bandido... já os avisei vezes sem conta que nã se levanta saias às madrinhas... os sacanas... nem sei o que lhes faço quando os apanhar...
Eliminarbeijos, do afilhado...
Ah!!! Afinal foste tu que arrancaste a laranjeira e puseste aquele ror de laranjas espalhadas pela estrada! Malandro!
ResponderEliminarFáxabor de parar, está bem?
Beijocas, Stormy :)
Foi uma tempestade para ninguém pôr defeito. Uma categoria!
ResponderEliminar"Ulisses e os seus companheiros foram parar à Ilha Eólia, onde reinava Eolo, o Rei dos Ventos. (...)A certa altura, enquanto Ulisses dormia, abriram o saco…e … a desgraça aconteceu! Os ventos soltaram-se e uma terrível tempestade começou."
ResponderEliminarCreio que está tudo dito. Estamos perante um descendente de uma figura mítica que se disfarça entre os mortais a andar de autocarro (com pouca competência, parece-me :)))). guardo segredo. não quero arruinar a vida de ninguém.
boa noite, MM-T.
Manel, tens trabalhado com afinco e profissionalismo, atributos que muito prezo, mas, mas... não descansas aos fins de semana? Eu e a minha bike hoje e ontem quase fomos abalroados por esta ventania louca, na minha rua voam papeis e lixo de vizinhos porcos e a minha buganvília acabou de ficar nua e depositou folhas e mais folhas no meu Djardim. descansa um pouco que faz-te bem :)
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