Drivelswigger
E por me parecer história que daria aviso e bom exemplo a todos, escrevi os trabalhos e males desta fidalga e, de toda a sua companhia, para que os homens que andam pelo mar se encomendem continuamente a Deus e a Nossa Senhora, que roga por todos. Ámen.
Partiu deste galeão Cuca Melissa Pamela, que Deus perdoe, para fazer esta desventurada viagem às Caraíbas, a dois de novembro do ano de dezasseis. E partiu tão tarde por ir carregar a mala até ao aeroporto, onde carregou obra de quatro mil e quinhentos quilos, praticamente todo o espólio de bom rum que havia a bordo. E com esta carga se partiu para o dito congresso, deixando a tripulação engalanada no convés, lavada em lágrimas, "esgrimindo com lenços intermináveis acenos". E ainda que a nau dali não se mexia, acostados a menos de uma milha da foz do Arelho, nem por isso deixou de ir sem a deixar entregue ao comando de um saco de pulgas rafeiro, no que se havia de ter muito cuidado pelo grande risco que correm as naus muito carregadas de pulguedo.
A três de novembro veio a Capitã haver vista da costa das Caraíbas e dos trinta e dous graus que lá fazia, não sonhando que toda a sua mui crida tripulação lhe encomendara uma surpresa no regresso. Vieram então a bordo sem demora os “cridos mudei o galeão” e seus carpinteiros, serralheiros, electricistas, pedreiros, ladrilhadores, canalizadores, pintores, estucadores e um decorador de interiores. Ter tanto dentro porque havia poucos dias que era partida, e não tardaram muito em ver de novo o chão do convés, a claridade das vigias, a bujarrona cheirando a alfazema, o tombadilho resplandecente.
Quando os homens terminaram a carranca de uma sereia de belos e redondos seios, e a pregaram na proa com mil cuidados, acharam por bem correr o sabão da quilha para cima, achando por debaixo da pintura negra uma outra encarnada, que fazia pandã com o lenço da Capitã. Mas por causa desta ruim ideia, que foi uma das causas, e a principal, de seu perdimento, porque chegaram do vante à popa sem haver achado por toda a embarcação, o nome de baptismo do galeão...
daqui |
Plagiado d' História Trágico-Marítima, prólogo, do caríssimo falecido Bernardo Gomes de Brito.
Ahahahahahahahahah
ResponderEliminarSuspeito que o melhor é abandonar o congresso e regressar rapidamente!
:)))
é uma tragédia, Capitã! Onde já se viu um galeão sem nome!!!
Eliminar:)
Um caso que ficará na História. :)
ResponderEliminar... ou emitido num canal de cabo :)
EliminarCaro Manelamigo
ResponderEliminarVenho com mais de um mês de atraso - mas venho.
Andando pela perigosíssima blogosfera encontro o teu nome assinando himalaias de comentários. Desperta-me a curiosidade de jornalista com 75 anos, mas com cabeça de 18 (a de cima) e resolvi armar-me em cusco e vir até cá. E aqui estou. Ó César perdoa-me o quase plágio: vim, vi e gostei. Se não tivesse gostado também to dizia: ou sim ou sopas.
Espero-te na NOSSA TRAVESSA http://anossatravessa.blogspot.pt
Abç
Henrique, o Lãozão
Caríssimo Henrique, vem sempre a tempo, mas desde já lhe digo que os comentários que por ai espalho são bem melhores do que as crónicas que aqui vou postando :)
EliminarA Nossa Travessa parece o sítio perfeito para a visita de um atravessado! obrigado.
abraço
Gosto particularmente do último parágrafo.
ResponderEliminardevia dedicar-me à pesca :)
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