nu
… ou triste sina de um ladrão
aposentado em jeito de episódio.
Não sei se te contei mas sempre
que subo a um escadote, sinto uma pequena dor que parte da virilha e se espalha
até ao ego. Quando o francês apontou para as armaduras, sabia que o meu dia
estava amaldiçoado, só que desta vez não corria o risco de rasgar pelos fundilhos, pois as calças apesar de velhas, eram largas. A única preocupação é que me caíssem pelas
pernas abaixo. E lá estava eu, pendurado num escadote que já tinha conhecido
melhores dias, a furar o maldito tecto, coberto de pó, quando o encarregado
apareceu, ele e dois polícias fardados, e atrás deles, a directora da escola muito corada. Perdeste um bonito espectáculo. É que estava completamente surdo
com o ruído da broca, e não me apercebi que tinha público, e os boxers à
mostra. Quando chegaste já tinha sido revistado pelo teu “cão de fila”, a minha
mochila revirada, os cotões de estimação desalojados.
Se calhar cheirava a suor, sei
que olhaste para as minhas mãos, estava sujo, sentia o pó entranhado, acumulado
no cabelo e nas pregas dos olhos. Tinha uma t-shirt com uma publicidade
qualquer a cerveja, a gola esbambeada, ruça de gasta. Que bela impressão terei
causado.
Quando já não tinhas mais papéis para me evitar, voltaste a tua atenção para a mochila vazia com a roupa limpa, o porta-moedas e o caderno, tudo empilhado. Não tocaste na roupa, talvez com receio de apanhares alguma coisa. Abriste o porta-moedas e despejaste os poucos zlotys na secretária, o suficiente para meio litro de cerveja nacional e um bilhete de autocarro.
Quando já não tinhas mais papéis para me evitar, voltaste a tua atenção para a mochila vazia com a roupa limpa, o porta-moedas e o caderno, tudo empilhado. Não tocaste na roupa, talvez com receio de apanhares alguma coisa. Abriste o porta-moedas e despejaste os poucos zlotys na secretária, o suficiente para meio litro de cerveja nacional e um bilhete de autocarro.
8 zlotys – disseste, 8 zlotys e uma coisa estranha! Acrescentaste. E entre o
teu polegar e o indicador direito vi que seguravas o meu amuleto da sorte. Um
caroço de tâmara!
Já tinha explicado a história do caroço pelo menos umas dez vezes, em várias línguas, em nenhuma delas, julgo, fui considerado normal. Quem é que anda com um caroço de tâmara nos trocos? Há tanta coisa que precisas saber sobre mim. É que dizem que dá sorte, atrai dinheiro, mas não pode ser um caroço qualquer, para receber a distinção de amuleto, é necessário que possua um pequeno círculo. Mostrei-te o umbigo do caroço, as nossas cabeças aproximaram-se, os teus olhos eram mesmo da cor do céu e pela primeira vez sorriste. Deste até uma pequena gargalhada. Fiquei desnorteado. Sofri uma síncope. Sentado, perdi o equilíbrio, como se o mundo tivesse parado de modo abrupto.
Tenho a clara sensação que fomos feitos um para o outro. Enquanto falavas, pensava em mudar-me para tua casa, escrevia durante a manhã que é quando a minha veia está mais inflamada. Sim, para além de acordar com o meu frondoso membro inflamado, também me acontece isso com a veia que escreve, mas pode ser porque tudo é mais nítido, os sentidos mais apurados, sem as contaminações da rotina. Depois acordava-te com o pequeno-almoço na cama e uma amostra do que te esperaria mais tarde, quando voltasses do trabalho. Não quero que vás muito sorridente. Podia então passar o dia a escrever para ti, dormia uma sesta após o almoço e quando chegasses, dava-te banho e de comer. E se não der para viver daquilo que escrevo, o que não será surpresa nenhuma, posso fazer uns part-times em joalharias, farmácias, bombas de gasolina, supermercados, bancos até se ainda tiverem dinheiro, desde que tu me ilibas depois ao fim do dia. Pensa no quão felizes vamos ser, como o Poirot e a condessa Rossakoff nunca conseguiram, mas ao contrário,
Já tinha explicado a história do caroço pelo menos umas dez vezes, em várias línguas, em nenhuma delas, julgo, fui considerado normal. Quem é que anda com um caroço de tâmara nos trocos? Há tanta coisa que precisas saber sobre mim. É que dizem que dá sorte, atrai dinheiro, mas não pode ser um caroço qualquer, para receber a distinção de amuleto, é necessário que possua um pequeno círculo. Mostrei-te o umbigo do caroço, as nossas cabeças aproximaram-se, os teus olhos eram mesmo da cor do céu e pela primeira vez sorriste. Deste até uma pequena gargalhada. Fiquei desnorteado. Sofri uma síncope. Sentado, perdi o equilíbrio, como se o mundo tivesse parado de modo abrupto.
Tenho a clara sensação que fomos feitos um para o outro. Enquanto falavas, pensava em mudar-me para tua casa, escrevia durante a manhã que é quando a minha veia está mais inflamada. Sim, para além de acordar com o meu frondoso membro inflamado, também me acontece isso com a veia que escreve, mas pode ser porque tudo é mais nítido, os sentidos mais apurados, sem as contaminações da rotina. Depois acordava-te com o pequeno-almoço na cama e uma amostra do que te esperaria mais tarde, quando voltasses do trabalho. Não quero que vás muito sorridente. Podia então passar o dia a escrever para ti, dormia uma sesta após o almoço e quando chegasses, dava-te banho e de comer. E se não der para viver daquilo que escrevo, o que não será surpresa nenhuma, posso fazer uns part-times em joalharias, farmácias, bombas de gasolina, supermercados, bancos até se ainda tiverem dinheiro, desde que tu me ilibas depois ao fim do dia. Pensa no quão felizes vamos ser, como o Poirot e a condessa Rossakoff nunca conseguiram, mas ao contrário,
A couple lying in a small boat together, looking up at the sky. Photograph by David E. Scherman. United Kingdom, 1942. |
Ah! A felicidade de uma vida simples!
ResponderEliminar:) pode um gajo querer mais?
EliminarO desnorte só pode vir de uma paixão, das fortes :)
ResponderEliminarE o que pode mais querer um apaixonado do que viver à mercê da sua paixão?! :)
Beijoquinha polvo-poeta-romântico :)
essa da mercê da paixão é boa... vou roubar, pro futuro! :D
EliminarLai lai lailai
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=_EVjq-D1caM
:))
achas que ela vai vestir a saia rodada? :D
EliminarManuel, Manuel, fizeste-me lembrar isto
ResponderEliminarAna, Ana, onde deixaste a tua lembrança? :)
EliminarSe me chamas Ana com maiúscula parece que estás zangado comigo e entristeço...
EliminarEstá chuva e os pardais não penteiam as penas...
nunca me zango com anas :D está no contrato...
EliminarManel, o amor é mágico. :)
ResponderEliminarDuvidas? Toma: https://www.youtube.com/watch?v=x7ttyQYBvXQ
ehehehehe, vou andar o dia de amanhã a cantar isto... o francês até vai bater mal :)
Eliminarsleeping with the enemy, dear octopus?
ResponderEliminarKeep your friends close and your enemies on the bed :D
EliminarQue saudades ... do amor!!! E de ter olhos azuis ... :)
ResponderEliminarnunca tive azuis, mas já tive amor... :)
EliminarEu também não, senhor Manel ...! :))
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEssa cabeça não pára de andar é roda Manel. Olhos azuis são paixão :)
ResponderEliminarninguém sabe onde vai parar... :)
EliminarMulher de coração duro!
ResponderEliminarDá-lhe com um tentáculo no... (ia escrever rabo, mas não sei se é uma sugestão muito decente. hesito...)
Carla, fizeste-me lembrar os povos de anime... Olha que são do piorio! :p
Eliminar*polvos, raios, não povos.
EliminarAiiiii... eu uma vez vi uma BD dos Piratas das Caraíbas e aquilo também metia tentáculos e... do piorio, Maria!!! Do piorio! ;)
Eliminartentáculo no rabo... e eu é que leio muito anime...
EliminarNão precisamos de muito para sermos felizes, basta aquela pessoa. :)
ResponderEliminarO teu texto fez-me sorrir. :)
já é um ponto positivo se te fez sorrir :)
EliminarQuase a certeza que foste feito para ela.
ResponderEliminarEla talvez ainda não tenha descoberto ou então faz como a condessa Rossakoff mas ao contrário. ;)
Olha, Manel, lembrei-me desta, toma: https://www.youtube.com/watch?v=yOnXe8ttmjY
o Leonard tem uma banana na mão?
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