kapusta
Não há sol. Uma névoa leitosa envolve a paisagem e a
cambalear encontro o caminho para verter as águas. Os pés aos poucos
habituam-se à realidade, dor já não é uma definição. Lavo bem as remelas,
depois de sacudidas estendo-as com duas molas. Engulo dois pães pequenos em
quatro dentadas, o café fraco a escaldar desce vagaroso, reconfortante. Só sei
que é manhã pelo anúncio dos pássaros, encolho as extremidades para o interior
e desapareço na bruma, pisando com cautela o gelo. Quando falo, um fumo
abandona-me.
Não há sol. Rapidamente deitou-se no outro lado aborrecido
com a distância. Deixo a água quente levar a poeira que trouxe escondida nas
pregas da pele, o cansaço não me leva por pouco pelo ralo. Jantamos na mesa
larga, partilham-se as deformidades do dia a cinco passos do fogão. Depois repartem-se
as migalhas pelas ranhuras das tábuas, lavo os pratos e as nuvens que caíram durante
o dia. Estou farto das couves que recusei com um sorriso, serviu-me o dobro
convencida que quis dizer sim em vez de não. Bocejo. As couves deram-me sono,
pareciam algas oscilando num mar tardo e zonzo regresso à cama.
Continua a não haver sol, desconfio que não volta. Contrariando a queda das
pálpebras, escrevo à insónia para que não venha, pelo amor da santa. Depois abro
a lista das perseguições, como uma caixa de sortido, desfaço-me do celofane, a
saliva acumula-se pela hesitação. Há aqueles embrulhados em papel colorido, os baunilhados,
os tradicionais, os cobertos de chocolate, quero provar todos, tenho fome de
letras, que um homem não vive só de couve. Mas os olhos começam a fumegar,
pequenas labaredas nas pestanas. Olho o tecto amaldiçoando os deuses pela
inspiração que não chega, deixando um comentário para o dia seguinte, por vezes demasiado tarde. Porque quem escreve não obedece a vontades, e se nem à sua
quanto mais às dos outros.
watercolor by | Mariusz Szmerdt |
Manel, escreve também à insónia para ela se demorar mais e te deixar escrever belos textos como este. ;
ResponderEliminarQue bom!
Isabel, a insónia nunca será bem recebida, ela pode vir mas preferia mesmo que não o fizesse! Obrigado, vou tentar escrever mais como este, mas sem promessas :)
Eliminarque bonito, puxa...
ResponderEliminarObrigado Laura :)
Eliminarum dia ainda serás premiado pela originalidade dos títulos (e a generosidade de partilhares textos tão bonitos)
ResponderEliminar:)
os títulos obedecem a muitas regras e pouca lógica :) obrigado, generosa és tu com os comentários :)
EliminarUm texto muito bonito. Prendeste-me em cada palavra. :)
ResponderEliminarUm beijo, Manel Mau. :))
Obrigado Castiel, nã sou merecedor de tanta bondade! :)
Eliminarbeijos
para quem não tem inspiração Trovisco... olha, diria a minha mãe, 'consolaste-me' :)
ResponderEliminaraté te mando um beijo, repenicadinho :)
com direito a beijo e tudo :)
Eliminarnã mereço, obrigado. Beijos de volta, embalados por causa da chuva!
A inspiração chegou sim, Manel. Abre mais vezes a lista das perseguições e escreve à bendita, a dita cuja da insónia. :))
ResponderEliminar:)
Eliminara lista das perseguições é a minha lista de leituras de blogs...
é neles que por vezes me falta a inspiração para comentar, com pena minha...
A tua insónia parece-me muito melhor do que a minha!
ResponderEliminarBeijos, Stormy boy. :)
a minha insónia tem andado desaparecida, nã a viste por esses lados?
Eliminarbeijos Tutu, :) e vê lá se dormes.
voto no programa eleitoral da Nashi e do da Tutu, o que não invalida nada do que ficou escrito :)
ResponderEliminarjá sabes em quem vais votar no domingo? :)
Eliminarno branco, mas não admito graçolas contendo acusações de discriminação :)
Eliminarno branco é racismo...
Eliminarah, andaste metido nas declarações da Charlotte Rampling...
Eliminareheheheh, fui ver quem era... afinal são nomeados pelo talento ou pela cor da pele?
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