Lapónia
Partimos de Puerto Seco em uma segunda, que eram sete dias
do mês de Dezembro da dita era de dois mil e quinze. Mandou a capitã levantar
âncora das calmas e quentes águas do Caribe sob os lamentos surdos da
tripulação; indo traçar rota para norte, arrochada com o cacete a cabeça do pai
natal, pilhariam todos os presentes das crianças do mundo.
À terça pela manhã houvemos vista de terra, o albugíneo farol
de Inagua cuidando pelos baixios. Contornamos em leste as Bahamas, navegando a dez
léguas[1]
ou mais. Seguimos nossa rota, e na tarde faleceu-nos o vento e andamos em calmaria até à
sexta-feira seguinte. À revelia da capitã, aproveitou-se para encimar a estrela
no mastaréu[2],
espalhar presépio em palha pelos cantos e enfeitar a proa com luzes dos
chineses.
E em doze do dito mês, indo na volta do mar norte quarta do
sudeste, achámos muitas aves, feitas como corvos-marinhos, e, quando veio a
noite, a barca amainou nos sargaços “retardam o navio como se fossem arbustos
(...) Aqui, as bestas marinhas movem-se vagarosamente de um lado para o outro,
e grandes monstros nadam languidamente”[3]
À Capitã não houve força que levasse o ânimo e à sexta-feira
em dezoito dias do mês de Dezembro, daqui andámos tanto pelo mar sem tomarmos
porto, que não tínhamos já água que bebêssemos, nem rum que dali fizéssemos grande
agasalho do frio, e pela manhã houvemos vista de terra, as derradeiras colinas
das ilhas Faroé. E ao outro dia fomos em uns batéis[4]
a terra e fomos recebidos com muito contentamento, lhe fizeram muita honra de
mantimentos, pelo qual a capitã lhes deu cascavéis[5]
e anéis de estanho.
Em este dia, depois de termos jantado muito pescado, em
metendo uma moneta[6], achámos
o mastro com uma fenda, abaixo da gávea[7]
uma braça[8].
Pelo qual o remendamos com brandais[9],
até que fossemos tomar porto no Báltico onde o Maltês esperava.
E ao domingo pousámos ao longo da costa, e, quando veio o
sol-posto, tornámos a dar nossas velas e seguir o nosso caminho pelo mar do
norte; e aqui nos ficou uma âncora, que nos quebrou um calabrete[10],
com que estávamos ao mar, junto a verdejantes encostas Vikings.
Segunda-feira que foram vinte e um dias do dito mês,
passamos ao largo da ponte de Orësund sobre o túnel, no estreito entre a
Dinamarca e a ilha de Saltholm, admirando o seu vão estaiado[11]
de sessenta metros suspensos por cabos. E às doze horas do dia, houvemos vista
da Polónia, avante nós obra de cinco léguas; e sobre a tarde nos viemos a falar
com o Maltês com alegria, onde tiramos muitas bombardas[12]
e tangemos trombetas, e tudo com muito prazer por o termos engajado[13]
e a vinte tonéis[14] de rum.
Partimos sem perda de dias do porto de Kołobrzeg para a Lapónia,
que são mais de trezentas léguas pelo menos. Quarta-feira à noite, vinte e três
dias de Dezembro, nos abordou um navio de cruzeiro cheio de velhinhos nórdicos,
e andámos abalroados obra de meia hora, que não nos podíamos apartar no
estreito de Kvarken. E quando veio a
manhã, véspera de vinte e cinco, fomos de frecha[15]
a terra e achámos-nos na gélida e deserta cidade de Kemi. E a capitã saiu com
gente armada, onde iam alguns com balesta[16],
alfange[17]
e mosquetes; e a capitã lhes mandou então que se apartassem e que achassem
veiculo, e baixássemos nos olhos as palas e apanhamos um autocarro que cento e
trinta e duas paragens depois nos deixou no centro de Rovaniemi, cidade do pai
natal.
Yo-ho-yo-ho…
Tudo devidamente plagiado, como se espera de um pirata:
Diários de bordo da pirata Cuca
Relação da primeira viagem de Vasco da Gama (1497), texto
modernizado de Luís de Albuquerque.
[1] Uma légua
equivale a 5,5km
[2] Pequeno mastro
suplementar
[3] Passagem
de Ora marítima de Avieno
[4] Pequenas
embarcações
[5] Ninharias,
bagatelas
[6] Pequena vela
suplementar por baixo dos papa-figos
[7] Plataforma
do mastro
[8] Medida de
duas varas ou 2,20 metros
[9] Cabos que
aguentam os mastaréus
[10] Amarra ou
cabo de pouca grossura
[11] Seguro por
estais, os estais são cabos que servem para aguentar a mastreação do navio no
sentido da vante
[12] Morteiro
que arremessava grandes pedras
[13] Que ou
quem se envolveu politicamente ou ao serviço de uma causa
[14] Vasilha
de aduela de grande lotação.
[15] O mesmo
que flecha
[16] Arma antiga
composta por um arco e por um cabo tenso com que se arremessam setas e
pelouros.
[17] Sabre largo
e curvo
Que plagiador mailindo quinté, este meu afilhado, mailindo e honesto
ResponderEliminareheheheh
Abreijo afilhado
e pirata, corsário, maltês :D abreijos madrinha
EliminarGostei pra lá de tanto, "plagiando-te" ;)
ResponderEliminarBeijoca
também és pirata, Sandra? :) beijos
EliminarE foi exatamente assim que acontecemos!!!
ResponderEliminarmesmo o autocarro? :D
EliminarNo autocarro foi quando comecei a beber o glögi. A partir daí ficou tudo muito confuso!
Eliminarpois foi, deixamos o rum no navio...
Eliminar:))
ResponderEliminarEstá muito giro! Após tanto navegar apanhar um autocarro com 132 paragens deve ter quanto muito provocado algum enjoo :)
olha, mas isso é uma boa continuação... todos a arrojar no veículo!
EliminarEu até já estou a ver estes Diários em filme!
ResponderEliminar:D se o Stan Lee entrar como Andhrimnir, o cozinheiro pirata, eu aceito!
EliminarTalvez este seja o momento indicado para mencionar... cof cof... que também fui admitida como tripulante desse navio, pelo que... hummm... pudesse ser paga para... quem sabe?... fazer de mim própria.
Eliminarpois, isso nã sei, terás de falar com a capitã, ela é que manda :D
EliminarAi, com piratas assim, vale a pena! Adorei :)
ResponderEliminarUm beijinho
piratas dos outros, nem eu arrisco... beijo Miss Smile
EliminarAlinho numa pirataria dessas, uma aventura sem nome mas que mete um navio, uma viagem com terra a perder de vista e um autocarro e 132 paragens... tenho alma de pirata é o que é.
ResponderEliminarTemos uma série :))
Beijoooo Sr Manel Temporal
nã, quem tem os direitos é a capitã... carrega ali no link e vai ler histórias a sério :D beijos AC
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