enfrear
A nossa conversa começou sem ele saber muito bem em que lado
da barricada me ia encontrar. Talvez porque nunca lhe dei muito a saber das minhas
coisas, usualmente o tema é trabalho, por vezes conta-me situações engraçadas dos
miúdos, ou manipula energicamente o seu novo gadget para me mostrar as fotos
das férias. Finjo interesse e esqueço rapidamente o nome dos pequenos.
Reparei como preparou o trecho, pisando cauteloso o assunto
como se pretendesse surpreender um urso num bosque repleto de galhos. “É tudo
muito bonito”, começou, “mas quando nos toca a nós, em nossa casa, a coisa muda
de figura”. Sem que ele notasse, tirei do bolso do casaco um blíster de
compridos e tomei logo dois. Já estava a prever o que ai vinha, se não era
sobre os refugiados, era sobre os sem-abrigo, ou os desempregados. Não fazia
outra coisa para além de cavar trincheiras à pressa, estava exausto e então comecei
a tomar refreio em pastilhas.
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