naʼiidzeeł
Uma alameda larga desembocava no areal. Não se viam
automóveis, no entanto caminhava pelo passeio. O céu era brilhante, azul claro
que feria os olhos e que se intensificava junto do mar. O som da música e das
pessoas misturava-se com os guinchos das aves marinhas. Havia muita gente, a
maior parte permanecia em grupos com aspecto homogéneo, sentados nos medos no
limite dos pinheiros. Outras caminhavam em sentido contrário, todas me olhavam
com um estranho receio, baixando a cabeça quando se aproximavam. Notei que devíamos
pertencer a tribos diferentes, não sei qual era o meu aspecto, mas bastava a distância
de uns cinco metros para baixarem a cabeça e desandarem da minha frente.
Um grupo desordeiro de dois homens e uma mulher vinha em
sentido contrário, falavam alto em grunhos imperceptíveis e enquanto se
afastavam da orla marítima, provocavam os outros transeuntes com insultos e
gestos obscenos. Observei-os atentamente à medida que nos aproximávamos, traziam
as cabeças rapadas e os rostos riscados na vertical a vermelho. A rapariga que
parecia a mais aguerrida, foi a primeira a calar-se quando me viu, os dois
homens ladearam-na largando os paus que empunhavam, passando por mim em silêncio, olhando-me de soslaio. Uns
metros mais à frente retomaram os insultos, conseguia ouvi-los, olhei para trás
e vi que se afastavam rapidamente.
Continuei em direcção à luz, a praia era um pequeno areal
que a preia-mar ia engolindo, onde se encavalitavam guarda-sóis e corpos da cor
da areia. Um gradeamento acompanhava a orla marítima para norte, que terminava
abrupta numa escarpa. Então o som do mar elevou-se acima de tudo, abafando a
música e as gaivotas, seguindo-se um estranho e prolongado silêncio. O céu cobriu-se com uma
gigantesca onda, tornando o sol vermelho, estático. Agarrei-me instintivamente ao
gradeamento esperando a força avassaladora e impossível da ressaca. Olhei à
volta, uma mulher de cabelos compridos sorria de uma janela do outro lado da vedação, gritei-lhe que se
segurasse, mas ela não ouviu. Pensei abrigar-me no mesmo edifício,
talvez a parede de tijolo resistisse ao impacto. Tinha quase a certeza que não
ia suportar a força da onda, agarrado a uma cerca de arame galvanizado, e mesmo
que aguentasse sem ceder, o pior era o recuo, o retorno da onda ao mar,
arrastando consigo tudo o que tinha engolindo pelo caminho.
Já estava pronto para morrer, mas mesmo assim larguei o
gradeamento e corri para o edifício de tijolo.
naʼiidzeeł : sonho na língua navaja..
Tu nunca mais aprendes a sonhar, coisas boas menino?
ResponderEliminartalvez só me lembre das más...
EliminarFreud ia divertir-se contigo :P
ResponderEliminarachas que ele está livre para dar uma consulta?
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