azul

Só bebi uns copos, não os suficientes para esquecer. A noite pareceu durar uma eternidade, levando-me a deambular de sítio em sítio, não achando em nenhum deles motivos para ficar. Por duas vezes quiseram vender-me algo ilícito, três vezes ter-me-ei achado perdido. E a noite continuava infindável, iluminada por uma lua cheia.
Estava a amanhecer quando cheguei, sóbrio como uma anémona. Nunca conheci uma anémona, pelo menos uma verdadeira, mas contaram-me que quando acordam não bocejam nem espreguiçam, alias, pouco fazem para além de se manterem sóbrias. Escovei os dentes todos e deitei-me, desolado e com fome. Miniaturas de pickles e copos de vodka, era o que ela pedia sempre que estávamos juntos. E foi com isso que sonhei, pelo menos na primeira parte, miniaturas de pickles que ela comia com as mãos e copos de vodka. Na segunda parte ela desapareceu, sugada misteriosamente por debaixo do pano. A sala estava vazia, as paredes ostentavam as marcas das molduras e nada me era familiar, mas teria vivido ali toda a vida. Era o que dizia o registo.
No fim do terceiro sonho acordei sem certezas e na boca o gosto amargo da bebida.

“Boom boom boom boom
I'm gonna shoot you right down”-ressoava, como uma banda sonora.

Havia por todo o quarto zonas iluminadas e outras que permaneciam intocadas pela luz, à medida que o sol se escoava pelas fendas, tépido. Dormitei o resto do tempo, sonhando metades inacabadas de sonhos, acordando quando não restavam vestígios de dia. Esvaziei a bexiga, escovei os dentes e voltei a deitar-me, desolado e com fome. Não tardei a sonhar com miniaturas de pickles e copos de vodka, onde se afogavam anémonas sóbrias.

“Right off your feet
Take you home with me, put you in my house
Boom, boom, boom, boom”


Comentários

  1. As anémonas também boiam por aí. Como tu fazes.

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  2. Era uma vez, uma anémona ou seria medusa? não dava para ver, o sol tépido entrava pelas frestas e a luz era difusa, ou seriam vapores da infusa? restos de vodka ou de tusa? E a fome? ai, a fome que o matava, e que pra a esquecer, dormitava....

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  3. Quando se quer esquecer, ou se bebe ou não se bebe. E se se bebe tem de ser de "caixão à cova", senão a coisa não resulta. Brincar aos polícias e ladrões até me parece uma boa ideia, mas azar dos azares, nem sempre o shot sai certeiro.
    Deixa-te de vodka, os pickles podes manter apesar de envinagrados e experimenta:

    “One bourbon, one scotch and one beer
    Well, my baby, she gone, she been gone two night
    I ain't seen my baby since night before last
    I wanna get drunk 'til I'm off of my mind
    One bourbon, one scotch and one beer”

    Ainda não estás anestesiado? Então...

    “One bourbon, one scotch, and one beer
    One bourbon, one scotch, and one beer
    Hey mister bartender come here
    I want another drink and I want it now”

    Repete a dose tantas vezes quantas forem necessárias. Garanto-te que é remédio santo.

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