tordos

Temperou os bifes de frango com o que havia por ali, achei arriscado a malagueta cortada fina, quase estive para o interromper quando espremeu meio limão e barrou tudo com pasta de alho. Depois passou por ovo e numa tábua coberta com pão ralado, martelou os bifes usando o punho fechado, até ficarem completamente panados e espalmados. Confesso que até eu estava espantado com a técnica e enquanto a estrangeira controlava a fritura, o Maltês continuava a dar show. Preparou um refogado com azeite de terras lusas, adicionou-lhe uma cenoura e meio chouriço cortados em pequenos cubos, arroz q.b. sem parar de mexer, até o doce aroma translúcido da cebola dispersar e ligar os restantes ingredientes. Até parecia que sabia o que estava a fazer sob o olhar atento da assistente estrangeira, aspirava o sabor provando o cheiro, antes de atestar de água morna e uma pitada de sal. Quando fechou o tacho, admito que já estava rendido e os convidados sentados e famintos.
Gostava de saber de quem foi a ideia, mas até aposto que o Maltês esperto como é, ofereceu uma garrafa de azeite à estrangeira, e daí até se prestar para cozinhar algo típico foi um saltinho. E elas caem que nem tordos, julgam que ele está a ser simpático e cordial, à medida que se torna um especialista em pratos rápidos e mais ou menos tradicionais, também apura a suprema técnica de engate.

Quando meteu à boca a primeira garfada de arroz, a estrangeira da blusa com andorinhas julgou estar apaixonada pela simplicidade e todos sentados à mesa repararam como corou. No entanto a causa permanece um mistério e até ao momento carece de confirmação, mas há quem diga que enrubesceu porque imaginou o Maltês só de avental esforçado em frente ao fogão. Cá para mim foi o tempero, efeitos do calor da malagueta a dançar na língua, a persistir queimar e espalhar por todo o corpo. Alguém se esticou sobre a mesa para lhe encher o copo, mas eu já estava de saída.
Escandalosamente fácil é o que vos digo.     


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