charola

O povo havia subido em massa ao adro da igreja para acompanhar a saída dos santos. As ruas mantinham-se enfeitadas de serradura colorida e flores, alguns verdes dos quintais carregados de varejas onde se erguiam miragens quentes, esperando desde a aurora a passagem do andor. Os acólitos de opas claras bufavam vermelhos de sufoco ainda a procissão estava na roda da igreja, por ordem os santos eram descidos e precipitavam-se para o exterior. Por momentos os altifalantes suspenderam os anúncios amadores, solicitando a participação de um homem para carregar o andor de nossa senhora de Fátima. Podias ir. Disse a moça entediada na tarde. Nem sequer sou católico. Respondeu o homem que enrolava um cigarro na sombra. Eles não sabem. Insistiu a moça que estava menos enfadada. Porque não vais tu. Sugeriu o homem que agora acendia o cigarro protegendo a chama com a palma. Só podem ir homens fortes, o andor é pesado. Respondeu a moça tentando aliciar o homem pelo elogio. Dos altifalantes voltava a ressoar a mesma voz, voluntários precisam-se. Se fores…, disse a moça e aproximou-se do ouvido do homem para lhe sussurrar a última parte da proposta. O homem sorriu pisando o cigarro e dirigiu-se apressado para o adro.


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