brava
Entrou na gruta com os pés enlameados e o javali ao ombro de
língua pendurada a pingar sangue. Estava exausta, primeiro da caçada e depois o
caminho carregando o bicho, debaixo de uma chuva que parecia não ter fim. As
peles que a cobriam estavam pesadas, encharcadas e o trilho de volta à caverna
transformara-se numa massa de lama e pedras soltas. Pousou a lança antes de se
desembaraçar da pesada carga que os alimentaria nas próximas semanas,
aproximando-se da fogueira no centro da gruta para se aquecer.
Onde é que ele anda? Terá grunhido para si. Despiu as peles
de auroque enfeitadas com conchas e sentou-se perto do lume reconfortante.
Quando ele regressou com uma bolsa meia cheia de bagas, já o sol pairava na
linha do horizonte e ela dormia seminua, o corpo musculado marcado por
cicatrizes das caçadas e batalhas.
Não acredito! Grunhiu o macho na entrada da gruta, não viste
que tinha acabado de limpar? Encheste tudo de lama e sangue. Sangue, sabes o
quão difícil é tirar nódoas de sangue?
Ela acordou estremunhada, mas não se levantou ou se
importunou pelos grunhidos dele.
Onde é que andaste? Quis saber num dialecto primitivo com
poucas silabas, no seu tom sempre altivo de dominância feminina.
Achei bagas. Disse o macho, engolindo em seco e aproximou-se
a medo dela, oferendo a bolsa com os frutos. Comeu tudo sem partilhar, lambendo
os dedos e a boca satisfeita. Ele ainda estava ali especado a olhar,
aterrorizado, sem saber o que dizer. Mesmo sem os adornos e pinturas com que se
enfeitava, era dona de uma beleza assustadora. O cabelo escuro brilhante,
entrançado com contas de ocre, a pele levemente dourada do sol e aquele olhar de
lanças frias que lhe acertavam sem desviar.
O javali não se cozinha por ele. Disse-lhe a guerreira, com
os lábios sensualmente vermelhos dos frutos. Anda, vai tratar disso,
despacha-te que tenho fome!
Arrastou o javali para o exterior onde lhe retirou a pele e
depois cortou a zona das costelas com uma lâmina em sílex, colocando sobre as
brasas da fogueira suspensa a carne pelos ossos até ficar cozinhada. Ela não
tirava os olhos dele, seguindo os movimentos, fazendo comentários sobre o tempo
que ele demorava, não gostava de o ver com o cabelo em desalinho preso no topo com
um pedaço de tendão de musaranho, e aquelas peles largas de urso que usava
faziam-no gordo. Começava a ficar irritada e excitada, talvez fosse das bagas,
ou o cheiro que ele emanava enquanto suava para se livrar das manchas de
sangue.
Acariciou-se debaixo do pedaço de pele que lhe cobria o
sexo, estava húmida mas os dedos não seriam suficientes para apagar o fogo que
sentia. Levantou-se e caminhou decidida na direcção do macho que estava de cócoras
distraído, raspando como podia o sangue salpicado. Aplacou-o pelos cabelos como
um coelho agarrado por uma águia, arrastando-o para junto da fogueira sem
oferecer resistência, deslizando pelo chão imaculado, arrancou-lhe as roupas e
com uma mão no pescoço, quase asfixiando, montou-o até a carne estar assada.
Dorido, sacudiu as areias e pequenos galhos da fogueira que
se tinham cravado nas costas e nádegas. Ela agarrou o naco maior e despedaçou a
carne junto ao osso, engolindo grandes pedaços ainda quente e sem tempero.
Sentou-se junto dela, mas não muito junto, aguardando que ficasse satisfeita e
lhe atirasse os restos, como um cão obediente à espera do osso. Arrotou alto,
sinal que estaria cheia, toda besuntada de carne e sangue, recostada sobre as
peles. A saliva crescia-lhe na boca, estava esfomeado depois de tanta
actividade, ainda lhe doíam as costas e o pescoço, marcado pelos dedos dela.
Atirou-lhe um pedaço de carne preso ao osso que rolou pelo chão, esticou-se
para o apanhar, mas quando o alcançou na extremidade, ela puxou-o por uma
perna, arrastando-o até junto de si com a mesma facilidade com que esquartejava
um alce.
Não tinha como escapar, ela voltava-o para cima e o chão
fugia dele, e ela prendia-o enquanto deslizava a sua mão desde o tornozelo até
o agarrar no membro flácido, presa fácil.
Ainda não estou satisfeita, disse rouca de libido,
mergulhando os dedos dentro de si e depois colocando-os na boca do macho que os
lambia obediente. Era bom, uma mistura temperada de carne de javali salgada,
faltava talvez um pouco de piripiri, mas o Brasil só seria descoberto onze mil
e quinhentos anos depois.
Acariciou-lhe o membro antes de deslizar os lábios por ele,
sentindo-o endurecer na boca à medida que o sangue enchia os corpos cavernosos.
Fechou os olhos, entregando-se sem oferecer resistência, era como se a lança já
o tivesse atingido e só esperava a morte. Sorriu satisfeita, vitoriosa, mostrando
pequenas pevides pretas das amoras entre os dentes. Sentou-se sobre ele, montando-o
mais uma vez como se fosse um animal manso ou moribundo, domesticado, cravando-lhe
as unhas no peito para se segurar enquanto o galopava com força, amazona de
seios duros.
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