pego

De quem terei herdado esta insatisfação permanente, a inconformidade com tudo e ao mesmo tempo não recusando nada, aceitando em cada manhã como certo aquilo que ninguém quer? quem me ensinou a afogueada modéstia presa a mim como a flor do cardo, mas plantou no peito por estaca o orgulho desmedido? que acto de loucura vagueia nas minhas mãos e desfaz linhas atrás de linhas nas pautas de um caderno? 
mas e se o rio deixar de correr para o mar? se as suas águas ficarem retidas, estagnadas à mercê das estações? os dias então serão como repetições de outros dias, disco riscado que salta voltando ao início nunca tocando o fim da melodia. certo que as chuvas podem transbordar, por isso gosto da chuva, mas o dia terá sempre o mesmo sabor, sem o salitre seco à flor da pele.



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