salineira
Quando abriu os olhos, a claridade mal entrava pela janela, e na penumbra que asfixiava os belos corpos despidos, pensou tratar-se de um sonho lúcido. Segurou a vontade de urinar e sem mover um músculo, fechou novamente os olhos, tacteando pelas rédeas em seda, convicto que voltaria ao sonho anterior.
Apesar de exímio domador, nem sempre conseguia agarrar a frágil extremidade desfiada, saltando cenas ou entrando de rompão num outro sonho inacabado. Como tinha sucedido há duas noites atrás, um salto quântico entre uma estrada em socalcos, estreita demais para a camioneta que conduzia, e de repente montava um dromedário obediente, atravessando o vale de Bamiyan, sob o olhar atento dos budas gigantes.
É possível que não tivesse usado a dose prescrita de determinação, meio quilo fazia toda a diferença, e por isso afirmei logo no início, que desta vez o homem estava convicto que voltaria ao sonho anterior. Também sei de antemão que não sonhava com camionetas, nem vias em construção, ou budas escavados em penhascos de arenito. Num cenário improvável, o homem convicto salvava a moça do rancho de um lago gelado, e ela despia a sua saia rodada, e de chinelas sem meias, continuava a bailar de canastra à cabeça.
As ninfas entreolharam-se, procurando entender a reacção do homem. Um murmúrio enchia o quarto, como gotas de chuvas que cessam antes da enchente. Não sei o que vai na cabeça das ninfas, não me é permitida a leitura a criaturas mitológicas que descem das paredes, apenas posso especular a confusão por detrás dos seus olhares, sobrancelhas desalinhadas. A mais audaz e destemida de todas, a que tinha há momentos atrás subido o lençol, toma o homem pela boca, dando-lhe a beber os lábios rosados, linha perfeita que o pintor deixou na tela. Contudo, o enlaçar das línguas não será suficiente para resgatar o mortal do mar onírico onde se afunda, a cada sorvo, mais fundo vai ficando. No sonho, beijava a moça salineira, cabelo apanhado no lenço garrido e é então, sem que ninguém previsse, as 34 ninfas suspiram em conjunto.
Apesar de exímio domador, nem sempre conseguia agarrar a frágil extremidade desfiada, saltando cenas ou entrando de rompão num outro sonho inacabado. Como tinha sucedido há duas noites atrás, um salto quântico entre uma estrada em socalcos, estreita demais para a camioneta que conduzia, e de repente montava um dromedário obediente, atravessando o vale de Bamiyan, sob o olhar atento dos budas gigantes.
É possível que não tivesse usado a dose prescrita de determinação, meio quilo fazia toda a diferença, e por isso afirmei logo no início, que desta vez o homem estava convicto que voltaria ao sonho anterior. Também sei de antemão que não sonhava com camionetas, nem vias em construção, ou budas escavados em penhascos de arenito. Num cenário improvável, o homem convicto salvava a moça do rancho de um lago gelado, e ela despia a sua saia rodada, e de chinelas sem meias, continuava a bailar de canastra à cabeça.
As ninfas entreolharam-se, procurando entender a reacção do homem. Um murmúrio enchia o quarto, como gotas de chuvas que cessam antes da enchente. Não sei o que vai na cabeça das ninfas, não me é permitida a leitura a criaturas mitológicas que descem das paredes, apenas posso especular a confusão por detrás dos seus olhares, sobrancelhas desalinhadas. A mais audaz e destemida de todas, a que tinha há momentos atrás subido o lençol, toma o homem pela boca, dando-lhe a beber os lábios rosados, linha perfeita que o pintor deixou na tela. Contudo, o enlaçar das línguas não será suficiente para resgatar o mortal do mar onírico onde se afunda, a cada sorvo, mais fundo vai ficando. No sonho, beijava a moça salineira, cabelo apanhado no lenço garrido e é então, sem que ninguém previsse, as 34 ninfas suspiram em conjunto.
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