abjurado



A meio da semana disse que afinal não podia vir, teria de ficar para depois, um projecto com prazos curtos tomara a dianteira da sua lista de prioridades. E lá estava a carreira profissional, gloriosa, acenando com a medalha de primeiro lugar no topo do pódio. Preparei-me para ocupar o segundo lugar, mas surgiu logo a família, uma massa de pessoas que falavam umas acima das outras e ninguém se entendia. Vá, tens ali o terceiro, é o mais baixo mas ainda fazes parte do pódio, podia ser pior. Já me tinha inclinado para receber a medalha de bronze das prioridades da sua vida, quando sou atingido com uma cotovelada, chega para lá, temos de caber todos, barafustavam os colegas, os amigos, os cursos de culinária, as viagens… e eram tantos que se encavalitavam uns nos outros, e por fim só me restou um pé em cima do estrado e com o outro pelo chão, percebi que na minha vida a tinha colocado no topo, acima do rebentamento das ondas, e sempre que me acenava com um osso, lá ia eu a correr, bem-mandado… senta, rebola… fode-me e podes voltar para o teu canto! 

Esticando-se pela largura da cama, empurra-me até ao limite do colchão, evitando o calor suado dos corpos, o hálito do estômago vazio pela manhã. 

Já nada é como dantes, sob um céu claro de estrelas, adormecidos no enlace depois de desencaixados os sexos. Era um sono contido num sonho, procurando nas mãos sentir a infinita sensação da pele, o apego ao mundo por permeio. Não nos temos na mesma medida. 

Amanho as amarras invisíveis que lancei, retesadas pela distância, com passadas rápidas tem caminhado o tempo, vão perdendo a força, algumas rasgaram e pendem caídas entre a invicta e a capital, outras aguentam-se na esperança de dias mais pertos. Não fazem sentido na vida dela, adia infinitamente um novo encontro… é tempo de as cortar. 


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